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INFÂNCIA

Criança que não consegue segurar o xixi: quando é normal e quando é problema 

Entenda quando a enurese faz parte do desenvolvimento natural e quando é hora de levar a criança que não consegue segurar o xixi a um especialista

Dra. Veridiana Andrioli

Dra. Veridiana Andrioli

5min • 10 de set. de 2025

Criança que não consegue segurar o xixi: quando é normal e quando é problema 

Um dos maiores marcos da infância é o desfralde, mas também é uma fase repleta de dúvidas para mães, pais e cuidadores. Afinal, até que idade é normal uma criança que não consegue segurar o xixi e em que momento isso passa a indicar um problema de saúde?

Segundo a urologista pediátrica Veridiana Andrioli, é preciso diferenciar o que faz parte do amadurecimento natural da criança e o que pode exigir uma investigação médica. A seguir, explicamos como funciona esse processo, quais sinais indicam que tudo está dentro do esperado e em quais casos procurar um especialista.

O desfralde como processo de desenvolvimento

O controle do xixi não acontece de um dia para o outro. Assim como andar, que começa com apoio até chegar à corrida livre, o desfralde diurno é um processo gradual. “A criança precisa passar por alguns momentos de percepção como: ‘fiz xixi’, ‘estou fazendo xixi’ até chegar ao ‘quero fazer xixi’… e isso não acontece de uma só vez”, destaca Veridiana.

Ela explica que cerca de 80% a 85% das crianças sem alterações neurológicas atingem o desfralde de forma espontânea e natural (durante o dia) até os 4 anos de idade. Isso significa que o não controle pleno do xixi diurno é normal até essa idade: a criança pode não conseguir controlar todas as vezes e ainda assim estar no caminho certo.

O importante é observar se há progresso. “A criança pode ter perdas, não conseguir controlar o xixi todas as vezes, e está tudo bem!”.

Sinais de que está tudo bem

  • Intervalos cada vez maiores em que a fralda permanece seca;
  • A criança avisa quando fez xixi;
  • Avisa quando precisa ir ao banheiro;
  • Demonstra interesse em usar o vaso ou penico.

Esses sinais mostram que o amadurecimento neurológico e comportamental está em curso e que o processo de continência e controle diurno está caminhando bem.

Criança que não consegue segurar o xixi: quando passa a ser problema?

Segundo a especialista, há um marco importante quando o assunto é uma criança que não consegue segurar o xixi: “Se a partir do 4º ano completo ainda não existir continência (capacidade de segurar a urina), com certeza precisamos investigar”, enfatiza.

Ela explica que é comum as crianças postergarem a ida ao banheiro por não quererem interromper a brincadeira, usando estratégias como cruzar as pernas ou segurar o genitor para o controle do xixi. Esses hábitos são ruins e podem piorar com o tempo, então são sinais de alerta.

Sinais de alerta

  • Criança com mais de 5 anos que ainda não controla o xixi durante o dia;
  • Perdas frequentes de urina mesmo em momentos de calma;
  • Evitar beber líquidos para não precisar ir ao banheiro;
  • Acidentes noturnos persistentes após a idade em que já seria esperado o controle.

A recomendação é clara: se os pais perceberem que algo não está indo bem e que a criança não está tendo evolução para segurar o xixi, o ideal é procurar um especialista antes que ocorram complicações.

Possíveis causas urológicas e neurológicas

Nem sempre a dificuldade de segurar o xixi está ligada apenas a fatores comportamentais. Em muitos casos, há causas médicas envolvidas que precisam ser investigadas com atenção.

As chamadas disfunções de eliminação, conhecidas pela sigla BBD (bowel and bladder dysfunction — “disfunções de eliminação intestinal e vesical”), englobam situações como intestino preso, retenção voluntária da urina, perdas durante episódios de riso e até alterações no relaxamento do assoalho pélvico, que comprometem o esvaziamento adequado da bexiga.

Outro fator são as malformações do trato urinário ou neurológico. Essas alterações podem dificultar que a criança perceba a bexiga cheia, atrapalhar o esvaziamento completo ou até desviar o caminho de drenagem da urina, como ocorre em algumas meninas que apresentam drenagem do ureter para fora da bexiga.

Muitas vezes há alterações detectadas na gestação ou logo após o nascimento. Nesses casos, a avaliação especializada é obrigatória, especialmente se já houve infecção urinária. “Toda criança que teve alterações dos órgãos suspeitadas durante a gravidez ou se já tiveram uma infecção urinária, não importa se menino ou menina, deve ser avaliada por especialistas”, alerta Veridiana.

O que os pais devem observar

  • Criança que segura o xixi até o limite, cruzando as pernas ou fazendo força para evitar a ida ao banheiro;
  • Alterações na rotina intestinal (constipação ou cocô ressecado);
  • Mudança de comportamento repentina em casa ou na escola.

É importante também conversar com a escola: a criança tem liberdade de ir ao banheiro? Consegue tirar a própria roupa? Esses fatores interferem diretamente no controle urinário.

Confira: Bronquiolite em bebês: sintomas e quando procurar o médico

Como é a avaliação médica

Ao contrário do que muitos imaginam, o primeiro passo não é pedir exames. “Começamos sempre com uma consulta adequada e exame físico, revendo todos os aspectos do comportamento, explicando a forma correta de sentar para fazer xixi e cocô, adequando o espaço e o acesso da criança à privada e observando os hábitos de xixi, cocô e ingesta de líquidos por meio de diários miccionais”, explica a urologista.

Ela enfatiza que, somente quando não há sucesso nessas medidas iniciais, é que se parte para a investigação de causas anatômicas com exames complementares.

Existe tratamento para incontinência urinária infantil?

Sim, o tratamento da incontinência urinária infantil envolve uma combinação de estratégias. A primeira delas é chamada uroterapia, que inclui orientações para hábitos corretos relacionados a xixi, cocô, ingestão de água, intervalos adequados para urinar e postura de relaxamento ao usar o vaso.

Além disso, podem ser recomendadas fisioterapias direcionadas para a reeducação do assoalho pélvico. Em alguns casos, medicamentos também entram no protocolo. “Sempre lembrando que há a necessidade de avaliação de profissional especializado antes da introdução de medicamentos”, ressalta Veridiana.

Por fim, é bom lembrar que nenhum tratamento terá sucesso sem o apoio dos pais ou cuidadores. Criar uma rotina de idas ao banheiro, garantir acesso fácil à privada ou penico, oferecer água regularmente e observar sinais do corpo são atitudes simples que fazem diferença.

O incentivo positivo também é essencial para uma criança que não consegue segurar o xixi: comemorar os avanços, evitar broncas em caso de escapes e transformar o processo em uma experiência de aprendizado e confiança para a criança.

Perguntas e respostas

1. Até que idade é normal a criança não conseguir segurar o xixi?

Até os 4 anos, a maioria das crianças atinge o desfralde diurno de forma espontânea. Escapes ocasionais fazem parte do processo de amadurecimento.

2. Quando a perda de xixi passa a ser considerada problema?

Se a criança chega aos 5 anos sem controle urinário durante o dia ou apresenta perdas frequentes mesmo em situações de calma, é hora de procurar avaliação médica.

3. Quais sinais indicam que pode haver algo errado?

Evitar beber líquidos para não ir ao banheiro, acidentes noturnos persistentes após a idade esperada, prender o xixi até o limite ou mudanças bruscas de comportamento em casa ou na escola.

4. Quais causas médicas podem estar por trás da dificuldade de segurar o xixi?

Podem estar envolvidas disfunções de eliminação (como intestino preso e alterações do assoalho pélvico), malformações do trato urinário ou neurológico, além de problemas já detectados na gestação ou após o nascimento.

5. Como é feita a avaliação médica?

O médico observa os hábitos miccionais, intestinais e de ingestão de líquidos, orienta sobre a postura correta ao usar o vaso e registra os padrões em diários miccionais.

6. Existe tratamento?

Sim. O tratamento geralmente começa com a uroterapia, que ajusta hábitos de xixi, cocô, hidratação e postura. Pode incluir fisioterapia do assoalho pélvico e, em alguns casos, medicamentos – sempre com orientação especializada.

7. O que os pais podem fazer para ajudar?

Criar uma rotina de idas ao banheiro, facilitar o acesso da criança ao vaso ou penico, oferecer água regularmente e comemorar os avanços. O apoio da família é essencial para o sucesso do tratamento.

Leia também: Asma infantil: sintomas, diagnóstico e tratamento

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Foto de Dra. Veridiana Andrioli

Escrito por Dra. Veridiana Andrioli

Sobre

Urologia e Urologia Pediátrica

Especialidades/Área de atuação

Urologista e professora assistente do Departamento de Urologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Urologia. Anteriormente, atuou no Departamento de Saúde do Adolescente da mesma instituição. Graduada em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), realizou residência em Cirurgia Geral e Urologia na própria universidade. Posteriormente, fez fellowship em Urologia Pediátrica na Universidade de Ottawa, em Ontário, Canadá. É doutora em Urologia pela UNIFESP e revisora de artigos científicos do Journal of Pediatric Urology. Além disso, publicou diversos artigos científicos e capítulos de livros na área de Urologia Pediátrica. - CRM/ SP 133.893 

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