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Compulsão alimentar ou exagero pontual? Entenda as diferenças e quando procurar ajuda profissional
Nutricionista explica como identificar os sinais do transtorno e quais estratégias auxiliam no tratamento

Fernanda Pacheco
5min • 3 de out. de 2025

Comer mais do que o habitual em situações sociais é algo comum e faz parte da vida. Mas, quando a ingestão de grandes quantidades de comida acontece de forma repetida, rápida e acompanhada da sensação de perda de controle, o quadro pode ser bem diferente: trata-se da compulsão alimentar, um transtorno que vai além do exagero ocasional e que merece atenção profissional.
De acordo com a nutricionista Fernanda Pacheco, é fundamental diferenciar os dois contextos. Segundo ela, a confusão é frequente, mas o impacto na vida de quem sofre com compulsão alimentar é muito maior, tanto do ponto de vista físico quanto emocional. Vamos entender.
O que é compulsão alimentar e como é diagnosticada
A compulsão alimentar é caracterizada por episódios em que a pessoa consome grandes quantidades de comida em um curto espaço de tempo.
“Essa ingestão é equivalente à que uma pessoa com características físicas semelhantes não comeria em contexto similar, acompanhada da sensação de perda de controle, ou seja, a pessoa sente que não consegue parar de comer”, adiciona Fernanda.
Além da perda de controle, outro ponto marcante é o sofrimento emocional. Esses episódios de compulsão geralmente são seguidos de culpa, vergonha e sofrimento intenso, diferentemente de um exagero pontual em um evento social.
Por ser um transtorno alimentar, a compulsão precisa de diagnóstico clínico, feito por um médico com base em critérios estabelecidos pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que incluem:
- Frequência: episódios ocorrem, em média, pelo menos uma vez por semana durante três meses;
- Intensidade da ingestão: a quantidade de comida ingerida é significativamente maior do que o esperado para o contexto e vem acompanhada da sensação de perda de controle;
- Impacto na vida pessoal, social e profissional: a compulsão não afeta apenas a relação com a comida, mas compromete rotinas, relacionamentos e até o desempenho no trabalho ou nos estudos.
Esses três pontos mostram que a compulsão alimentar não é apenas um excesso pontual, mas um transtorno que causa sofrimento e exige acompanhamento especializado. Diferentemente de um exagero ocasional, a compulsão traz repercussões amplas e recorrentes, que vão além do ato de comer em si.
Comer em excesso ocasionalmente é normal?
É importante deixar claro que apenas “comer demais” não significa compulsão alimentar.
“Comer em excesso em um evento social, como uma festa ou almoço de família, pode fazer parte da vida e não é considerado compulsão. A diferença central está no contexto: na compulsão, o ato de comer não está associado ao prazer social ou ao momento, mas a uma necessidade interna incontrolável.”
Em situações sociais, exagerar pode acontecer, mas na maioria das vezes a rotina alimentar é retomada logo depois, sem impacto emocional relevante. Já no caso da compulsão, a pessoa carrega sentimentos de vergonha, tenta esconder o comportamento e, muitas vezes, se isola.
Um bom critério é observar a proporção. Se todos à mesa estão comendo de forma semelhante, o exagero pode ser normal. Se a quantidade ingerida está muito além do padrão coletivo, é preciso atenção.
Outro ponto central é a repetição. Enquanto comer em excesso em um jantar especial pode ser pontual, a compulsão se caracteriza por episódios que se repetem com frequência e que causam sofrimento significativo.
“O comer em excesso ocasionalmente não tem essa frequência nem provoca o mesmo impacto”.
Sintomas da compulsão alimentar: quando procurar ajuda profissional
Nem sempre é fácil perceber que o que está acontecendo vai além de um simples exagero e passa a ser um transtorno alimentar. No entanto, alguns sintomas da compulsão alimentar são claros e devem acender o alerta:
- Comer grandes quantidades mesmo sem sentir fome;
- Vergonha do próprio comportamento e necessidade de comer escondido;
- Sensação de perda de controle ao iniciar a refeição;
- Esconder alimentos ou comer sozinho para que ninguém perceba;
- Sofrimento emocional intenso após o episódio.
“Esses sinais indicam que é hora de buscar ajuda profissional, pois a compulsão não é apenas falta de força de vontade, mas um transtorno de saúde”, explica Fernanda.
Tratamento da compulsão alimentar: como é a abordagem do nutricionista?
O tratamento da compulsão alimentar exige acolhimento e uma abordagem livre de julgamentos. O primeiro passo no atendimento é criar um espaço seguro para que o paciente consiga falar abertamente sobre suas dificuldades.
“A partir daí, o profissional busca compreender os gatilhos que levam à compulsão, como situações emocionais ou padrões alimentares desorganizados”, acrescenta a especialista.
Segundo ela, a estratégia não é impor restrições rígidas, mas ajudar a construir um padrão alimentar regular, com horários definidos e escolhas equilibradas, diminuindo os períodos de jejum que aumentam a vulnerabilidade a novos episódios.
“Esse processo envolve também trabalhar a consciência alimentar e comer com atenção plena, estimulando o paciente a reconhecer sinais de fome e saciedade”.
Entre as estratégias, estão:
- Fracionamento das refeições ao longo do dia, evitando longos períodos em jejum;
- Escolha de alimentos que promovem maior saciedade, como os ricos em fibras e proteínas;
- Evitar dietas extremamente restritivas, que aumentam o risco de descontrole alimentar.
“O objetivo é resgatar o prazer em comer, valorizando a experiência da refeição de forma consciente, o que ajuda a diminuir o comportamento automático de buscar comida como resposta imediata a tensões emocionais”, detalha a nutricionista.
Para reduzir episódios de compulsão, é importante evitar dietas muito restritivas, que aumentam o risco de descontrole. Além disso, a base da alimentação deve incluir alimentos ricos em fibras, além de garantir boas fontes de proteína em cada refeição, o que contribui para maior saciedade e equilíbrio ao longo do dia.
Fatores emocionais nem sempre são a causa da compulsão alimentar
Embora os fatores emocionais sejam os mais evidentes, eles não são os únicos envolvidos. É fato que a compulsão alimentar está frequentemente associada a fatores emocionais, como ansiedade, tristeza, solidão ou estresse, que funcionam como gatilhos para os episódios.
“No entanto, ela também pode estar relacionada a outros aspectos, como hábitos alimentares inadequados, longos períodos de jejum, desequilíbrios hormonais e até predisposição genética”, fala Fernanda
Por isso, o tratamento desse transtorno alimentar é geralmente multidisciplinar, envolvendo nutricionistas, psicólogos e médicos. O objetivo é tratar tanto as consequências físicas quanto as origens emocionais do problema.
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Perguntas e respostas sobre compulsão alimentar
1. O que diferencia a compulsão alimentar de um simples exagero?
A compulsão envolve episódios repetidos de ingestão de grandes quantidades de comida em pouco tempo, com perda de controle e sofrimento emocional. Já o comer em excesso ocasionalmente, como em festas, não tem essa frequência nem impacto.
2. Quais critérios clínicos são usados para diagnosticar a compulsão alimentar?
É considerado diagnóstico quando os episódios ocorrem ao menos uma vez por semana durante três meses, acompanhados de perda de controle e impacto na vida pessoal, social ou profissional.
3. Quais sinais indicam que é hora de procurar ajuda profissional?
Comer sem fome, sentir vergonha do comportamento, esconder alimentos, comer sozinho e sofrer emocionalmente após os episódios são sinais claros de alerta.
4. Como o nutricionista atua no tratamento?
O foco é acolher o paciente sem julgamentos, identificar gatilhos, organizar a rotina alimentar e trabalhar a consciência alimentar. O objetivo é reduzir o jejum prolongado, evitar restrições rígidas e resgatar uma relação saudável com a comida.
5. Que ajustes alimentares ajudam a reduzir os episódios de compulsão?
Manter refeições fracionadas ao longo do dia, incluir alimentos ricos em fibras, garantir boas fontes de proteína e evitar dietas muito restritivas, que aumentam o risco de descontrole.
6. A compulsão alimentar sempre tem origem emocional?
Não. Embora fatores como ansiedade, tristeza e estresse sejam comuns, o problema também pode estar ligado a hábitos alimentares inadequados, desequilíbrios hormonais ou predisposição genética.
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