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Comer tarde da noite faz mal? O que a ciência diz sobre o impacto no peso e na saúde
Fazer refeições pesadas logo antes de dormir pode confundir o relógio interno do corpo e aumentar o ganho de peso

Dra. Juliana Soares
5min • 25 de dez. de 2025

Comer tarde da noite pode alterar hormônios da fome e afetar o metabolismo, favorecendo ganho de peso e pior qualidade do sono | Foto: Freepik
O horário das refeições tem se mostrado um fator importante para o metabolismo, para o sono e até para o peso corporal. O campo da crononutrição, que estuda essa relação, tem revelado que comer tarde da noite muitas vezes pode afetar a forma como o corpo utiliza energia e regula o apetite.
Mais do que uma questão de calorias, o momento da refeição modifica processos hormonais e metabólicos. Comer tarde pode reduzir o gasto calórico, aumentar a fome e alterar os hormônios responsáveis pela saciedade. Além disso, interfere na qualidade do sono, ampliando o estresse e criando um ciclo difícil de quebrar.
O relógio biológico que regula o apetite
O corpo humano funciona em sincronia com o chamado ritmo circadiano, um relógio biológico interno que regula o sono, a temperatura corporal, o metabolismo e os hormônios. Esse sistema é influenciado pela luz, pela atividade física e pelos horários das refeições. Quando o padrão natural de alimentação e repouso é rompido, o metabolismo entra em descompasso.
Comer tarde e fora dos horários habituais reduz o gasto energético e altera a forma como o corpo processa açúcares e gorduras. Mesmo que a pessoa não consuma mais calorias, a tendência ao ganho de peso aumenta. Além disso, comer tarde pode reduzir a produção de leptina, hormônio que sinaliza saciedade, e elevar a grelina, responsável por estimular o apetite. Isso explica por que quem costuma comer à noite sente mais fome e dificuldade para controlar o peso.
O que a ciência fala sobre o horário das refeições
Pesquisas no campo da crononutrição mostram que, mesmo mantendo a mesma dieta, o horário das refeições altera o modo como o corpo queima calorias e armazena gordura. Comer quatro horas mais tarde do que o habitual reduz o gasto energético e modifica genes do tecido adiposo, aumentando a tendência ao acúmulo de gordura e dificultando sua quebra.
Esses efeitos acontecem independentemente da quantidade de calorias ingeridas. Isso significa que o corpo responde de forma diferente dependendo da hora em que recebe alimento. O metabolismo é mais ativo durante o dia, quando a produção hormonal e o gasto calórico estão em seu pico. À noite, essas funções naturalmente diminuem, o que faz com que as calorias sejam mais facilmente armazenadas.
Alimentação noturna, estresse e metabolismo
Há uma relação direta entre o horário das refeições e o controle do estresse. Quando a pessoa passa muitas horas sem comer e concentra grande parte da ingestão na alimentação noturna, o organismo libera mais cortisol, o hormônio do estresse. Esse desequilíbrio afeta o sono, aumenta a fome e altera o metabolismo da glicose.
Pular o café da manhã e comer tarde fazendo refeições pesadas também está associado a maior irritabilidade, ansiedade e pior qualidade da dieta. A irregularidade alimentar prejudica o funcionamento do relógio biológico e favorece o consumo de alimentos ultraprocessados. Reajustar o padrão para refeições distribuídas durante o dia ajuda a estabilizar o humor e reduzir a compulsão alimentar à noite.
Comer à noite é sempre ruim?
Nem sempre. O impacto depende do tipo de alimento, da quantidade e da proximidade com o horário de dormir. Quem sofre de refluxo deve evitar comer nas duas ou três horas que antecedem o sono, pois o estômago cheio facilita o retorno do ácido ao esôfago. Pessoas com diabetes também precisam ter cuidado, já que lanches calóricos à noite podem causar picos de glicemia e alterar o descanso.
Por outro lado, sentir fome perto da hora de dormir não deve ser ignorado. Nesses casos, o ideal é optar por lanches leves, com boa combinação de proteína, fibras e gorduras boas, como iogurte natural com frutas, aveia ou castanhas. O problema está em transformar o hábito de beliscar à noite em rotina diária ou usar a comida como válvula de escape para emoções.
O papel do sono e do equilíbrio hormonal
Dormir mal e comer tarde da noite são dois fatores que se reforçam mutuamente. A falta de sono altera os níveis de leptina e grelina, aumentando a vontade de comer alimentos ricos em carboidratos e doces. Além disso, comer com o corpo prestes a dormir interfere na liberação de melatonina, o hormônio que regula o sono, prejudicando o descanso e o metabolismo no dia seguinte.
O ideal é que a digestão esteja em andamento quando o corpo entra no período de repouso. Isso favorece o equilíbrio hormonal, melhora o funcionamento do metabolismo e ajuda no controle do peso. A longo prazo, manter refeições muito tardias eleva o risco de resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral e doenças metabólicas.
Estratégias práticas para mudar o hábito
Mudar o horário das refeições pode parecer desafiador, mas algumas medidas simples e ajudam o corpo a se adaptar e restaurar o equilíbrio natural do metabolismo. A chave está em criar uma rotina que respeite o relógio biológico e favoreça o descanso adequado.
- Antecipe o jantar: procure fazer a última refeição do dia até 19h ou, no máximo, 20h, para permitir que a digestão ocorra antes do sono
- Não pule o café da manhã: ele regula o metabolismo, reduz a fome noturna e evita excessos no fim do dia
- Faça pequenas refeições ao longo do dia: manter intervalos regulares de alimentação ajuda a evitar longos períodos de jejum e picos de apetite
- Cuide do sono: dormir bem é essencial para manter o equilíbrio hormonal e controlar a fome
- Reduza a exposição a telas à noite: a luz artificial desregula o relógio biológico e estimula a fome noturna
Essas mudanças graduais ajudam o corpo a retomar seu ritmo natural de funcionamento. Com o tempo, o resultado é um metabolismo mais equilibrado, maior disposição e um sono de melhor qualidade.
O que a ciência recomenda
Estudos na área da crononutrição indicam que o ideal é concentrar a alimentação no período diurno, respeitando os intervalos naturais de fome e descanso. Comer tarde da noite, de forma frequente e com alimentos pesados desregula o metabolismo e pode favorecer o ganho de peso, o aumento do estresse e a piora do sono.
Adotar uma rotina alimentar alinhada ao ritmo circadiano, com refeições distribuídas e sono regular, ajuda o corpo a funcionar de forma mais eficiente. O segredo está em combinar boa alimentação, descanso e horários consistentes, garantindo equilíbrio hormonal e saúde duradoura.
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Perguntas e respostas
1. Comer tarde da noite pode favorecer o ganho de peso?
Sim. Mesmo sem aumentar a ingestão calórica, comer tarde pode reduzir o gasto energético e alterar o metabolismo, favorecendo o acúmulo de gordura corporal.
2. Por que o horário das refeições interfere no metabolismo?
Porque o corpo segue um ritmo circadiano. À noite, o metabolismo desacelera, a queima de calorias diminui e os hormônios da fome e da saciedade se desregulam.
3. Comer tarde da noite afeta os hormônios?
Sim. A produção de leptina, que sinaliza saciedade, cai, enquanto a grelina, que estimula o apetite, aumenta. Isso aumenta a fome e dificulta o controle do peso.
4. Comer à noite é sempre ruim?
Não necessariamente. O impacto depende da quantidade e do tipo de alimento. Refeições leves e com nutrientes equilibrados podem ser toleradas, mas refeições pesadas ou frequentes à noite tendem a causar desconfortos e piorar o sono.
5. O que acontece com o sono de quem come tarde?
A digestão noturna pode reduzir a produção de melatonina, prejudicar o descanso e alterar os hormônios que controlam a fome, criando um ciclo de fadiga e desequilíbrio metabólico.
6. Como ajustar o hábito de comer tarde?
Antecipar o jantar, não pular o café da manhã, fazer refeições regulares ao longo do dia e reduzir o uso de telas à noite são medidas eficazes para restabelecer o equilíbrio do corpo e do sono.
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