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PREVENÇÃO & LONGEVIDADE

O que o cardiologista observa no seu exame de sangue 

Dos níveis de colesterol à glicemia, os resultados laboratoriais revelam muito sobre a saúde do coração e ajudam a identificar riscos antes que surjam sintomas

Dra. Juliana Soares

Dra. Juliana Soares

5min • 22 de dez. de 2025

Médico analisa resultados de exame de sangue em uma prancheta.

Exames laboratoriais de rotina ajudam o cardiologista a detectar precocemente alterações que indicam risco cardiovascular | Foto: Freepik

Os exames de sangue são uma das ferramentas mais valiosas na prevenção de doenças cardiovasculares. Muito antes de qualquer sintoma surgir, alterações sutis em indicadores como colesterol, triglicérides e glicemia já apontam que algo não vai bem. É por meio deles que o cardiologista consegue identificar riscos, avaliar o funcionamento do metabolismo e traçar estratégias de prevenção.

Mais do que números isolados, o cardiologista analisa o conjunto de resultados. Ele considera fatores como histórico familiar, hábitos de vida e presença de outras doenças. Isso porque o coração raramente adoece sozinho: ele reflete o equilíbrio (ou desequilíbrio) de todo o organismo.

Colesterol: o primeiro sinal de alerta

Entre os principais parâmetros do exame de sangue, o colesterol continua sendo um dos mais importantes. Ele é essencial para várias funções do corpo, como a produção de hormônios e vitaminas, mas em excesso pode se acumular nas artérias, favorecendo a formação de placas que aumentam o risco cardiovascular.

O cardiologista avalia o colesterol total e suas frações: o LDL (colesterol ruim) e o HDL (colesterol bom):

  • O ideal é manter o LDL abaixo de 100 mg/dL (ou 70 mg/dL em pessoas com alto risco cardiovascular)
  • O HDL deve estar acima de 40 mg/dL nos homens e 50 mg/dL nas mulheres

Além disso, ganha cada vez mais importância o colesterol não HDL, que representa todo o colesterol “ruim” circulante, incluindo partículas que o exame tradicional não mede diretamente. Pesquisas apontam que esse marcador é mais preciso para prever eventos cardíacos do que o LDL isolado. Por isso, é um dos principais pontos de atenção durante a avaliação cardiológica.

Triglicérides e glicemia: energia demais pode virar problema

Os triglicérides são outro componente importante do exame de sangue. Eles funcionam como reserva de energia, mas quando estão altos, aumentam a viscosidade do sangue e favorecem o acúmulo de gordura nas artérias. O nível ideal é abaixo de 150 mg/dL.

Já a glicemia e a hemoglobina glicada indicam como o corpo lida com o açúcar. Valores persistentemente altos podem revelar resistência à insulina e risco de diabetes, um dos fatores mais relevantes para doenças cardíacas. O cardiologista observa esses números não só para diagnosticar diabetes, mas também para identificar o chamado pré-diabetes, fase em que ainda é possível reverter o quadro com mudanças no estilo de vida.

Esses marcadores se relacionam diretamente: quando há excesso de açúcar no sangue, parte dele se transforma em gordura, elevando os triglicérides. É por isso que o cardiologista interpreta esses resultados em conjunto, não de forma isolada.

Função hepática e renal: o coração também sente os reflexos

Os exames de sangue também permitem avaliar enzimas hepáticas como TGO (AST) e TGP (ALT), que indicam o estado do fígado. Alterações nessas enzimas podem apontar esteatose hepática (gordura no fígado), condição associada à obesidade, à resistência à insulina e, consequentemente, ao aumento do risco cardiovascular.

Outro marcador fundamental é a creatinina, que avalia a função dos rins. Coração e rins estão intimamente conectados: quando um deles sofre, o outro tende a ser afetado. Por isso, níveis elevados de creatinina podem indicar sobrecarga cardíaca ou sinais precoces de insuficiência renal, especialmente relevantes para quem já tem hipertensão ou diabetes.

Esses exames ajudam o médico a entender como os órgãos que sustentam o equilíbrio metabólico estão trabalhando. Quando fígado e rins não funcionam bem, o corpo acumula substâncias que dificultam o controle da pressão e aumentam o risco de complicações cardíacas.

Inflamação e novos marcadores de risco cardiovascular

Além dos parâmetros clássicos, o exame de sangue pode incluir marcadores de inflamação, como a proteína C-reativa ultrassensível (PCR-us). Níveis elevados indicam inflamação crônica de baixo grau, associada ao envelhecimento vascular e ao risco aumentado de infarto e AVC.

Outro exame que tem ganhado destaque é a lipoproteína(a), ou Lp(a). Trata-se de uma partícula semelhante ao LDL, mas determinada geneticamente. Pessoas com níveis elevados têm risco cardiovascular maior, mesmo com colesterol e glicemia normais. A recomendação atual é medir a Lp(a) ao menos uma vez na vida adulta, especialmente em quem tem histórico familiar de doenças cardíacas precoces.

Entre os marcadores emergentes, destacam-se ainda a apolipoproteína B (ApoB), que representa o número total de partículas aterogênicas, e o fibrinogênio, proteína envolvida na coagulação. Ambos ajudam a refinar o cálculo de risco cardiovascular e podem ser solicitados em avaliações mais detalhadas.

Como interpretar o conjunto dos resultados

O cardiologista avalia o exame de sangue de forma integrada. Isso significa olhar não apenas para valores isolados, mas para as relações entre eles. Por exemplo, uma pessoa com colesterol LDL normal, mas triglicérides e glicemia elevados, ainda pode ter alto risco cardiovascular.

Nessas situações, o médico considera o contexto geral: hábitos alimentares, sedentarismo, tabagismo, histórico familiar e até a qualidade do sono. Em muitos casos, a simples mudança no estilo de vida já é suficiente para normalizar os exames.

  • Dieta equilibrada: reduzir alimentos ultraprocessados e incluir frutas, verduras, legumes, grãos integrais e gorduras boas (azeite, castanhas e peixes)
  • Atividade física regular: ajuda a aumentar o HDL, reduzir o LDL e controlar glicemia e triglicérides

Mesmo assim, quando há fatores genéticos importantes ou doenças associadas, o cardiologista pode indicar medicamentos para controlar o colesterol, a glicemia ou a pressão arterial. O objetivo é proteger o sistema cardiovascular e evitar eventos futuros.

Exames em dia, saúde cardiovascular em dia

O exame de sangue é um mapa detalhado do funcionamento do corpo e uma das ferramentas mais eficazes para prevenir doenças do coração. Ele permite identificar riscos antes que surjam sintomas e direcionar intervenções precisas. Cuidar da alimentação, manter hábitos saudáveis e fazer check-ups regulares são medidas que fortalecem o coração e prolongam a vida.

Leia mais: Novas metas de colesterol em 2025: valores mais rígidos para proteger seu coração

Perguntas e respostas

1. Quais são os principais exames de sangue que o cardiologista avalia?

Colesterol (total, LDL, HDL e não-HDL), triglicérides, glicemia, hemoglobina glicada, creatinina, enzimas hepáticas e proteína C-reativa ultrassensível.

2. O que significa ter colesterol alto no exame de sangue?

Indica excesso de gordura circulante que pode se acumular nas artérias e aumentar o risco de aterosclerose, infarto e AVC.

3. Triglicérides elevados também são perigosos?

Sim. Eles aumentam a viscosidade do sangue e estão ligados à resistência à insulina, obesidade e risco cardiovascular elevado.

4. O que é a lipoproteína(a) e por que é importante medir?

É uma partícula genética semelhante ao LDL que eleva o risco de doenças cardiovasculares mesmo em pessoas com outros exames normais.

5. Exames de fígado e rim também influenciam na saúde do coração?

Sim. Alterações em enzimas hepáticas e creatinina podem refletir distúrbios metabólicos que afetam diretamente o sistema cardiovascular.

Veja também: Hemoglobina glicada: o exame que revela a “memória” da glicose

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Escrito por Dra. Juliana Soares

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