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PREVENÇÃO & LONGEVIDADE

Cardiodesfibrilador implantável: o que é, quando é indicado e como é implantado

O aparelho detecta arritmias graves e pode emitir impulsos elétricos para restaurar o ritmo normal do coração

Dr. Rodrigo Caligaris Cagi

Dr. Rodrigo Caligaris Cagi

5min • 5 de nov. de 2025

homem idoso com cardiodesfibrilador implantável em consulta médica com a mão sobre o peito, descrevendo sintomas cardíacos ao profissional de saúde.

O objetivo principal do cardiodesfibrilador implantável é evitar a morte súbita cardíaca | Foto: Freepik

Você sabe o que é uma arritmia cardíaca? Ela acontece quando o coração sai do seu ritmo natural e começa a bater mais rápido, mais devagar ou de forma totalmente desorganizada. Em algumas pessoas, o coração acelera tanto que não consegue mais bombear sangue suficiente para o corpo — o que pode causar tontura, desmaios e, em casos mais graves, até uma parada cardíaca súbita.

Quando esse risco existe, o cardiologista pode indicar o uso de um cardiodesfibrilador implantável (CDI), um pequeno aparelho que fica sob a pele do peito e monitora o coração 24 horas por dia. Se ele percebe que o ritmo ficou perigoso, aplica automaticamente um choque elétrico que faz o coração voltar ao normal.

Na prática, ele oferece uma nova chance de vida para quem vive com doenças cardíacas graves ou já teve episódios de arritmia ventricular que poderiam ter sido fatais. Vamos entender, a seguir, como ele funciona, a implantação e os cuidados no dia a dia.

O que é um cardiodesfibrilador implantável (CDI)?

O cardiodesfibrilador implantável, também chamado de CDI, é um dispositivo médico de alta tecnologia projetado para monitorar continuamente o ritmo cardíaco e intervir em situações de risco. Ele atua de forma automática, identificando quando o coração passa a bater de maneira rápida e desorganizada a ponto de comprometer o bombeamento adequado de sangue para o corpo.

Nesses casos, o aparelho libera um impulso elétrico controlado, restabelecendo o ritmo normal em questão de segundos.

Cardiodesfibrilador implantável e marcapasso: qual a diferença?

O marcapasso e o cardiodesfibrilador implantável (CDI) são dispositivos cardíacos eletrônicos, mas com finalidades diferentes:

  • O marcapasso é indicado para corrigir batimentos lentos ou irregulares (bradicardias), emitindo pequenos impulsos elétricos que mantêm o coração batendo no ritmo certo. Alguns modelos modernos ajustam automaticamente o ritmo conforme o esforço físico.
  • O CDI, por outro lado, é voltado para pacientes com risco de arritmias graves e fatais, como taquicardias ventriculares. Ele monitora continuamente o coração e aplica um choque interno automático se detectar uma arritmia perigosa.

Em alguns casos, o paciente pode precisar de um CDI com marcapasso integrado, capaz de atuar em batimentos lentos e rápidos, oferecendo uma proteção mais completa. A escolha depende da avaliação do cardiologista, que considera o tipo de arritmia, o estado clínico e o risco de parada cardíaca súbita.

Para que serve o cardiodesfibrilador implantável

O objetivo principal do CDI é evitar a morte súbita cardíaca, que ocorre quando o coração para de bater por causa de uma arritmia grave. Ele monitora o coração 24 horas por dia e reconhece quando o batimento está normal, lento, rápido ou completamente irregular.

Se o dispositivo percebe uma taquicardia ventricular (batimento muito acelerado), tenta corrigir o ritmo com pequenos estímulos elétricos. Mas se for uma fibrilação ventricular — quando o coração treme e deixa de bombear sangue — o CDI aplica um choque mais intenso para restaurar o ritmo normal em segundos.

De acordo com o cardiologista Rodrigo Caligaris Cagi, o CDI funciona como um “backup” do coração — um sistema de segurança que entra em ação quando há uma arritmia potencialmente fatal, mantendo o coração funcionando até que o atendimento médico seja realizado. Ele salva vidas, mas não trata a causa da arritmia.

Quem precisa usar um cardiodesfibrilador implantável?

Segundo Rodrigo, o CDI é indicado para dois perfis de pacientes:

  • Prevenção secundária: quem já teve uma arritmia grave, desmaios sem explicação ou sobreviveu a uma parada cardíaca — o CDI evita que isso aconteça novamente.
  • Prevenção primária: pessoas com alto risco de morte súbita por doenças cardíacas, como insuficiência cardíaca avançada, cardiomiopatia dilatada ou condições genéticas que alteram o ritmo do coração.

Em ambos os casos, a decisão é feita após uma avaliação detalhada do cardiologista, considerando fatores clínicos e individuais.

Como é feita a cirurgia para colocar o CDI?

O implante do CDI é um procedimento seguro e relativamente simples, feito em hospital com sedação e anestesia local. O passo a passo inclui:

  • Pequena incisão na parte superior do tórax;
  • Introdução de um ou mais cabos até o coração (no caso do CDI tradicional);
  • Colocação do gerador sob a pele e conexão aos cabos;
  • Teste e programação do sistema;
  • Fechamento da incisão com pontos e curativo.

A cirurgia dura entre 1 e 2 horas e, geralmente, o paciente pode ir para casa no dia seguinte. Nos primeiros dias, é comum sentir leve desconforto no local ou notar um pequeno volume sob a pele — o que é normal.

Cuidados após a cirurgia

Após o implante, alguns cuidados ajudam na recuperação:

  • Evitar levantar o braço esquerdo acima da cabeça nas primeiras semanas;
  • Não carregar peso com o braço do lado do implante;
  • Manter o local limpo e seco até a retirada dos pontos;
  • Evitar esportes de contato;
  • Realizar as revisões conforme orientação médica.

Em cerca de 4 a 8 semanas, o corpo já se adapta ao CDI, permitindo retomar atividades normais, inclusive exercícios leves e o trabalho — com liberação do cardiologista.

Possíveis riscos e complicações

Embora seguro, o procedimento pode ter alguns riscos, como:

  • Infecção no local da cirurgia;
  • Sangramento ou inchaço;
  • Deslocamento do cabo ou gerador;
  • Perfuração de vasos ou músculo cardíaco (raro);
  • Reações a anestésicos ou medicamentos.

Mesmo com o CDI, ainda existe risco de algo acontecer?

O CDI é ajustado de forma personalizada conforme o tipo de arritmia e o estado do coração. Ainda assim, em casos muito graves, o coração pode não responder ao choque elétrico, especialmente quando há danos cardíacos extensos. Nesses casos, mesmo com a ação imediata, o paciente pode não resistir.

Como é o acompanhamento com o cardiodesfibrilador implantável

Após a cirurgia, o acompanhamento é feito periodicamente — geralmente a cada 6 meses — para verificar o funcionamento do aparelho e o estado do coração.

O médico usa um computador que se comunica com o CDI por ondas de rádio, permitindo visualizar o histórico de batimentos e ajustar a programação. Modelos modernos têm monitoramento remoto, enviando dados automaticamente para o hospital ou clínica.

Quanto tempo dura a bateria do CDI?

A bateria de lítio do CDI dura, em média, de 5 a 7 anos, podendo chegar a 10 em modelos modernos. Quando está perto do fim, o gerador é trocado em uma cirurgia rápida, sem necessidade de substituir os cabos.

Cuidados no dia a dia com o CDI

Ter um CDI permite levar uma vida normal, desde que o paciente siga as orientações médicas e mantenha o acompanhamento. É possível praticar atividades leves, viajar e trabalhar normalmente.

Alguns cuidados importantes incluem:

  • Evitar colocar o celular perto do peito (manter 15 cm de distância);
  • Apresentar o cartão do CDI em aeroportos e detectores de metal;
  • Avisar médicos antes de fazer exames de imagem (como ressonância magnética);
  • Evitar ímãs, motores potentes e soldas elétricas;
  • Continuar o tratamento clínico prescrito pelo cardiologista.

Confira: Holter 24h: como o exame ajuda a flagrar arritmias ocultas

Perguntas frequentes

É possível dirigir com cardiodesfibrilador implantável?

Sim, mas depende da indicação. Se o CDI foi colocado por prevenção primária, geralmente é possível dirigir após uma semana, com liberação médica. Já quem passou por uma parada cardíaca precisa esperar alguns meses sem choques antes de voltar a dirigir, conforme avaliação do cardiologista.

O CDI pode interferir com outros aparelhos?

De modo geral, o CDI é bem protegido, mas deve-se evitar:

  • Ímãs e alto-falantes potentes;
  • Ferramentas elétricas industriais;
  • Aparelhos de solda ou motores grandes;
  • Fones de ouvido com ímãs próximos ao peito.

Micro-ondas, TVs, Wi-Fi e computadores não oferecem risco — basta seguir as orientações básicas.

O CDI pode ser desligado em situações de fim de vida?

Sim. O CDI pode ser desligado em casos de fim de vida, mediante decisão médica e consentimento do paciente ou família. Isso evita choques desnecessários e garante conforto, sendo parte do cuidado humanizado.

O choque do CDI dói?

O choque de alta energia pode ser sentido como uma pancada forte e rápida no peito, mas dura apenas um segundo. Apesar do susto, ele salva vidas e restaura o ritmo cardíaco. Em arritmias leves, o CDI corrige o ritmo com estímulos menores, sem causar dor.

O CDI emite algum som ou sinal?

Normalmente, não. O aparelho funciona silenciosamente. Modelos mais modernos podem emitir vibrações ou sinais discretos quando há alertas, como bateria baixa ou necessidade de revisão. Caso o paciente perceba algum som, deve procurar a equipe médica para avaliação.

Leia mais: Marcapasso: para que serve, como funciona e como é colocado

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Escrito por Dr. Rodrigo Caligaris Cagi

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Médico cardiologista e arritmologista.

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