PREVENÇÃO & LONGEVIDADE
Capacete protege mesmo contra lesões cerebrais?
O capacete é obrigatório no uso de motos, ciclomotores e bikes elétricas, e recomendado em todas as atividades sobre rodas
Eli Paes
5min • 14 de nov. de 2025

O capacete é projetado para absorver e dissipar a energia de um impacto, reduzindo o risco de ferimentos graves | Foto: Freepik
Em uma queda, batida ou colisão, a cabeça é uma das partes mais vulneráveis do corpo humano — e os danos podem ser irreversíveis se não houver proteção adequada. É justamente por isso que o uso de capacetes é obrigatório em várias situações, desde o ciclismo até o motociclismo, além de ser altamente recomendado em esportes de impacto.
Os números não deixam dúvidas: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso do capacete reduz em até 70% o risco de ferimentos graves na cabeça e em 40% o risco de morte. Isso acontece porque o capacete atua como uma barreira física e tecnológica, absorvendo a energia do impacto e diminuindo a força transmitida ao crânio e ao cérebro.
A seguir, entenda em detalhes como o capacete protege o cérebro, quais tipos existem e como escolher o ideal.
Como o capacete protege a cabeça?
O capacete é projetado para absorver e dissipar a energia de um impacto, reduzindo o risco de ferimentos graves. Quando ocorre uma queda ou colisão, a energia do choque é distribuída entre as diferentes camadas do capacete, em vez de ser totalmente transferida para o crânio.
A estrutura de um capacete costuma ter duas partes principais, sendo elas:
- Casca externa rígida, normalmente feita de policarbonato ou fibra de vidro, que forma a primeira barreira de proteção do capacete. Ela serve para dissipar a força do impacto e evitar impactos diretos na cabeça, prevenindo lesões como ferimentos cortantes no couro cabeludo e fraturas cranianas. Com isso, ajuda a evitar fraturas, hemorragias e hematomas intracranianos e traumatismos de maior gravidade.
- Camada interna de espuma (EPS — poliestireno expandido), que funciona como um amortecedor de choques, comprimindo-se no momento da batida para absorver parte da energia e reduzir a desaceleração brusca da cabeça, minimizando o risco de lesões cerebrais.
Quando o corpo sofre uma queda, o cérebro, que tem consistência macia, se movimenta dentro do crânio. O capacete não impede totalmente esse deslocamento, mas reduz significativamente a força do impacto, diminuindo a chance de o cérebro colidir com as paredes ósseas da cabeça.
Com isso, ele ajuda a evitar fraturas cranianas, hemorragias internas e traumatismos graves — principais causas de morte em acidentes de trânsito e esportes com impacto.
Capacete previne lesões cerebrais?
O capacete reduz drasticamente o risco de lesões cerebrais estruturais, como hemorragias e traumas cranianos graves. No entanto, ele não impede completamente lesões funcionais, como a concussão, de acordo com a neurocirurgiã Ana Gandolfi.
Para entender isso, é preciso compreender o que acontece dentro da cabeça durante um impacto:
- Movimento translacional (para frente e para trás): o cérebro se desloca dentro do crânio e pode colidir contra suas paredes internas, provocando hematomas, sangramentos e danos ao tecido cerebral;
- Movimento rotacional (de torção): o cérebro gira de forma brusca dentro do crânio, fazendo com que os neurônios se friccionem entre si — esse atrito pode causar lesões difusas e concussões.
Os capacetes são mais eficazes contra o primeiro tipo de movimento, o translacional, já que dissipam a força e evitam fraturas ou sangramentos. No entanto, eles ainda têm limitações contra os movimentos rotacionais, responsáveis pela maioria das concussões.
Ana Gandolfi destaca que a concussão não ocorre apenas após uma batida direta na cabeça — um impacto forte no tórax ou em qualquer outra parte do corpo também pode causar o deslocamento brusco do cérebro dentro do crânio, resultando na lesão.
Mesmo assim, estudos mostram que o uso do capacete reduz o risco de lesões cerebrais em até 85%. Ou seja, embora ele não elimine completamente o risco, ele transforma um trauma grave em um trauma leve.
Riscos de não usar capacete
O traumatismo craniano é uma das maiores causas de morte em acidentes de trânsito no mundo. Segundo a OMS, 1,3 milhão de pessoas morrem todos os anos em decorrência de acidentes, e boa parte dessas mortes poderia ser evitada com o uso correto do capacete.
Entre os principais riscos de não usar capacete, destacam-se:
- Fraturas cranianas: quando o impacto é direto e o crânio se quebra, expondo o cérebro a danos irreversíveis;
- Hemorragias intracranianas: o golpe faz os vasos sanguíneos do cérebro se romperem, causando sangramento interno;
- Concussão cerebral: mesmo sem fratura, a pancada pode gerar confusão mental, perda de memória e tontura;
- Lesões permanentes: sequelas motoras, cognitivas e emocionais podem ocorrer em traumas graves.
Além das mortes, há as sequelas permanentes. Um traumatismo craniano pode deixar a pessoa com dificuldade para falar, andar, se lembrar ou até se reconhecer. A reabilitação é longa, custosa e, muitas vezes, não devolve todas as funções perdidas no acidente.
Vale apontar que o risco não existe apenas em altas velocidades. Quedas simples, de bicicleta ou patinete, mesmo a 10 km/h, podem causar traumas moderados a graves — especialmente em crianças.
A neurocirurgiã Ana Gandolfi explica que, nos pequenos, a cabeça tem uma proporção maior em relação ao corpo, o que aumenta significativamente a probabilidade de ela ser a primeira parte a atingir o chão em uma queda.
Além disso, o equilíbrio infantil ainda não está totalmente desenvolvido, o que torna as quedas mais frequentes. Por isso, mesmo em trajetos curtos, o capacete é necessário no uso de patins, bicicleta ou patinete.
Quando é necessário usar capacete?
É necessário usar capacete sempre que houver risco de queda ou colisão envolvendo a cabeça, e isso inclui:
- Motos e ciclomotores: uso obrigatório por lei no Brasil;
- Bicicletas: é preciso mesmo em baixas velocidades;
- Patinetes elétricos e patins: quedas a 10 km/h já podem causar traumatismos;
- Esportes radicais: skate, mountain bike, snowboard e outros exigem proteção constante.
No caso de crianças, aliado ao capacete, é recomendado o uso de acessórios como joelheiras, cotoveleiras e roupas adequadas para a prática de esportes com rodas.
Como escolher o melhor capacete?
O primeiro passo ao escolher o capacete é garantir que ele tenha o selo do INMETRO (no Brasil) ou certificações internacionais equivalentes, como CPSC, ASTM ou Snell, que atestam a conformidade do produto com testes de impacto e resistência. Eles indicam que o capacete passou por rigorosos ensaios de segurança e é capaz de proteger o cérebro em caso de queda ou colisão.
Depois, atente-se ao modelo certo para o tipo de atividade, já que cada modalidade tem riscos e necessidades específicas:
- Ciclismo e patinete: modelos leves, com boa ventilação e cobertura total do crânio;
- Skate, patins e esportes radicais: capacetes com laterais e parte traseira mais reforçadas, capazes de absorver múltiplos impactos;
- Esportes na neve (esqui, snowboard): capacetes térmicos, com isolamento e presilhas compatíveis com óculos e equipamentos de frio;
- Motocicletas e trânsito urbano: obrigatório capacete fechado ou com viseira, com certificação Denatran/INMETRO, que cubra toda a cabeça e o queixo.
O tamanho e o ajuste também precisam ser exatos — o capacete deve ficar firme, mas confortável, sem balançar ou apertar demais. As fitas laterais devem formar um “V” sob as orelhas, e o fecho do queixo deve permitir apenas um ou dois dedos de folga.
Fique de olho para que o fecho fique firme, pois se não estiver preso, o equipamento pode sair no momento do impacto, deixando a cabeça vulnerável a um segundo choque.
Também vale priorizar o conforto e a ventilação, já que crianças tendem a rejeitar capacetes quentes ou pesados. Modelos com aberturas de ar, acolchoamento removível e peso leve aumentam a chance de uso constante.
Por fim, é recomendável trocar o capacete a cada 3 a 5 anos, mesmo sem quedas, já que o material interno se desgasta com o tempo.
Capacete no trânsito é obrigatório
No Brasil, o uso do capacete é obrigatório para condutores e passageiros de motocicletas e ciclomotores, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O não cumprimento da regra é considerado infração gravíssima, com multa, pontos na carteira e possibilidade de retenção do veículo.
Mas, mais do que uma obrigação legal, a OMS e o Ministério da Saúde reforçam que capacetes seguros e de boa qualidade reduzem o risco de morte em até seis vezes. Ainda assim, em muitos países, especialmente os de baixa e média renda, o uso é baixo — seja por descuido, desinformação ou falta de fiscalização.
Entre os motivos que dificultam o uso de capacetes estão a baixa qualidade de modelos mais baratos, a falta de opções seguras para crianças e o calor excessivo em algumas regiões.
Outro problema comum é o uso incorreto do equipamento — muitas pessoas não ajustam o capacete corretamente, e ele pode se soltar no momento de uma queda ou batida.
Leia também: Cirurgia de coluna: 5 condições em que ela pode ser necessária
Perguntas frequentes
1. Existe diferença entre capacete de moto, bicicleta e esportes radicais?
Sim, existem diferenças importantes. O capacete de moto é projetado para suportar impactos de alta velocidade e cobre toda a cabeça e o rosto. Já os de bicicleta e patinete são mais leves, com ventilação melhor, mas ainda assim precisam ter o selo de segurança do Inmetro ou equivalente. Para esportes radicais como skate, BMX ou snowboard, os capacetes são reforçados nas laterais e na parte de trás, pois as quedas costumam acontecer em ângulos diferentes.
2. Qual é o tempo de vida útil de um capacete?
A maioria dos fabricantes recomenda substituir o capacete a cada cinco anos, mesmo que ele pareça em bom estado. Isso porque o material interno perde sua capacidade de absorver impacto com o tempo, especialmente se exposto ao sol, calor ou umidade. E se o capacete sofrer uma queda forte, mesmo que sem rachaduras visíveis, deve ser trocado imediatamente.
3. Existe diferença entre capacete masculino e feminino?
Na prática, a diferença está mais no design e nos tamanhos disponíveis, não na proteção. Alguns modelos femininos possuem ajustes que acomodam melhor o formato da cabeça ou o cabelo comprido, mas o que realmente importa é o conforto e a certificação de segurança.
4. O que devo fazer se sofrer uma queda usando capacete?
Mesmo que o capacete pareça intacto, ele pode ter perdido parte da sua capacidade de absorção, então é necessário substituí-lo. Observe também se houve sintomas neurológicos, como dor de cabeça, tontura ou confusão mental — nesses casos, procure atendimento médico imediatamente.
5. Como o capacete age em um acidente de trânsito?
Durante uma colisão, o capacete absorve parte da energia do impacto por meio de suas duas camadas: a externa, rígida, que espalha a força, e a interna, de espuma (EPS), que se comprime. Isso reduz a desaceleração brusca da cabeça e impede que o cérebro bata com tanta força nas paredes do crânio.
6. O uso de capacete é obrigatório em bicicletas elétricas?
No Brasil, quem utiliza bicicletas elétricas é obrigado a usar capacete, conforme determinam as resoluções do Contran. Além do capacete, também são obrigatórios campainha, farol dianteiro, luz traseira e lateral e espelhos retrovisores.
7. Posso usar um lenço ou touca por baixo do capacete?
Sim, desde que o tecido seja fino e não comprometa o encaixe. Toucas ou bandanas ajudam na higiene, mas o capacete deve continuar justo e firme. Qualquer material que crie folga pode reduzir a eficácia da proteção.
Leia também: Dor de cabeça: quando é normal e quando é sinal de alerta

