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PREVENÇÃO & LONGEVIDADE

Capacete protege mesmo contra lesões cerebrais?

O capacete é obrigatório no uso de motos, ciclomotores e bikes elétricas, e recomendado em todas as atividades sobre rodas

Eli Paes

Eli Paes

5min • 14 de nov. de 2025

1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Comparing head impacts: traumatic brain injury & concussion. Disponível em https://www.cdc.gov/traumatic-brain-injury/data-research/comparing-head-impacts/index.html 2. American Association of Neurological Surgeons (AANS). Sports-related head injury. Disponível em: https://www.aans.org/patients/conditions-treatments/sports-related-head-injury/ 3. AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Bicycling and Beyond: When Your Kids Should Wear Helmets. HealthyChildren.org, 2023. Disponível em https://www.healthychildren.org/English/safety-prevention/at-play/Pages/bicycling-and-beyond-when-your-kids-should-wear-helmets.aspx 4. LEE, Lois K.; FLAHERTY, Michael R.; BLANCHARD, Ashley M.; et al. Council on Injury, Violence, and Poison Prevention. Helmet Use in Preventing Head Injuries in Bicycling, Snow Sports, and Other Recreational Activities and Sports. Pediatrics, v. 150, n. 3, e2022058878, set. 2022. American Academy of Pediatrics. Disponível em https://doi.org/10.1542/peds.2022-058878 5. Chaichan, S., Asawalertsaeng, T., Veerapongtongchai, P., Chattakul, P., et al. (2020). Are full-face helmets the most effective in preventing head and neck injury in motorcycle accidents? A meta-analysis. Preventive medicine reports, 19, 101118. Disponível em https://doi.org/10.1016/j.pmedr.2020.101118

O capacete é projetado para absorver e dissipar a energia de um impacto, reduzindo o risco de ferimentos graves | Foto: Freepik

Em uma queda, batida ou colisão, a cabeça é uma das partes mais vulneráveis do corpo humano — e os danos podem ser irreversíveis se não houver proteção adequada. É justamente por isso que o uso de capacetes é obrigatório em várias situações, desde o ciclismo até o motociclismo, além de ser altamente recomendado em esportes de impacto.

Os números não deixam dúvidas: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso do capacete reduz em até 70% o risco de ferimentos graves na cabeça e em 40% o risco de morte. Isso acontece porque o capacete atua como uma barreira física e tecnológica, absorvendo a energia do impacto e diminuindo a força transmitida ao crânio e ao cérebro.

A seguir, entenda em detalhes como o capacete protege o cérebro, quais tipos existem e como escolher o ideal.

Como o capacete protege a cabeça?

O capacete é projetado para absorver e dissipar a energia de um impacto, reduzindo o risco de ferimentos graves. Quando ocorre uma queda ou colisão, a energia do choque é distribuída entre as diferentes camadas do capacete, em vez de ser totalmente transferida para o crânio.

A estrutura de um capacete costuma ter duas partes principais, sendo elas:

  • Casca externa rígida, normalmente feita de policarbonato ou fibra de vidro, que forma a primeira barreira de proteção do capacete. Ela serve para dissipar a força do impacto e evitar impactos diretos na cabeça, prevenindo lesões como ferimentos cortantes no couro cabeludo e fraturas cranianas. Com isso, ajuda a evitar fraturas, hemorragias e hematomas intracranianos e traumatismos de maior gravidade.
  • Camada interna de espuma (EPS — poliestireno expandido), que funciona como um amortecedor de choques, comprimindo-se no momento da batida para absorver parte da energia e reduzir a desaceleração brusca da cabeça, minimizando o risco de lesões cerebrais.

Quando o corpo sofre uma queda, o cérebro, que tem consistência macia, se movimenta dentro do crânio. O capacete não impede totalmente esse deslocamento, mas reduz significativamente a força do impacto, diminuindo a chance de o cérebro colidir com as paredes ósseas da cabeça.

Com isso, ele ajuda a evitar fraturas cranianas, hemorragias internas e traumatismos graves — principais causas de morte em acidentes de trânsito e esportes com impacto.

Capacete previne lesões cerebrais?

O capacete reduz drasticamente o risco de lesões cerebrais estruturais, como hemorragias e traumas cranianos graves. No entanto, ele não impede completamente lesões funcionais, como a concussão, de acordo com a neurocirurgiã Ana Gandolfi.

Para entender isso, é preciso compreender o que acontece dentro da cabeça durante um impacto:

  • Movimento translacional (para frente e para trás): o cérebro se desloca dentro do crânio e pode colidir contra suas paredes internas, provocando hematomas, sangramentos e danos ao tecido cerebral;
  • Movimento rotacional (de torção): o cérebro gira de forma brusca dentro do crânio, fazendo com que os neurônios se friccionem entre si — esse atrito pode causar lesões difusas e concussões.

Os capacetes são mais eficazes contra o primeiro tipo de movimento, o translacional, já que dissipam a força e evitam fraturas ou sangramentos. No entanto, eles ainda têm limitações contra os movimentos rotacionais, responsáveis pela maioria das concussões.

Ana Gandolfi destaca que a concussão não ocorre apenas após uma batida direta na cabeça — um impacto forte no tórax ou em qualquer outra parte do corpo também pode causar o deslocamento brusco do cérebro dentro do crânio, resultando na lesão.

Mesmo assim, estudos mostram que o uso do capacete reduz o risco de lesões cerebrais em até 85%. Ou seja, embora ele não elimine completamente o risco, ele transforma um trauma grave em um trauma leve.

Riscos de não usar capacete

O traumatismo craniano é uma das maiores causas de morte em acidentes de trânsito no mundo. Segundo a OMS, 1,3 milhão de pessoas morrem todos os anos em decorrência de acidentes, e boa parte dessas mortes poderia ser evitada com o uso correto do capacete.

Entre os principais riscos de não usar capacete, destacam-se:

  • Fraturas cranianas: quando o impacto é direto e o crânio se quebra, expondo o cérebro a danos irreversíveis;
  • Hemorragias intracranianas: o golpe faz os vasos sanguíneos do cérebro se romperem, causando sangramento interno;
  • Concussão cerebral: mesmo sem fratura, a pancada pode gerar confusão mental, perda de memória e tontura;
  • Lesões permanentes: sequelas motoras, cognitivas e emocionais podem ocorrer em traumas graves.

Além das mortes, há as sequelas permanentes. Um traumatismo craniano pode deixar a pessoa com dificuldade para falar, andar, se lembrar ou até se reconhecer. A reabilitação é longa, custosa e, muitas vezes, não devolve todas as funções perdidas no acidente.

Vale apontar que o risco não existe apenas em altas velocidades. Quedas simples, de bicicleta ou patinete, mesmo a 10 km/h, podem causar traumas moderados a graves — especialmente em crianças.

A neurocirurgiã Ana Gandolfi explica que, nos pequenos, a cabeça tem uma proporção maior em relação ao corpo, o que aumenta significativamente a probabilidade de ela ser a primeira parte a atingir o chão em uma queda.

Além disso, o equilíbrio infantil ainda não está totalmente desenvolvido, o que torna as quedas mais frequentes. Por isso, mesmo em trajetos curtos, o capacete é necessário no uso de patins, bicicleta ou patinete.

Quando é necessário usar capacete?

É necessário usar capacete sempre que houver risco de queda ou colisão envolvendo a cabeça, e isso inclui:

  • Motos e ciclomotores: uso obrigatório por lei no Brasil;
  • Bicicletas: é preciso mesmo em baixas velocidades;
  • Patinetes elétricos e patins: quedas a 10 km/h já podem causar traumatismos;
  • Esportes radicais: skate, mountain bike, snowboard e outros exigem proteção constante.

No caso de crianças, aliado ao capacete, é recomendado o uso de acessórios como joelheiras, cotoveleiras e roupas adequadas para a prática de esportes com rodas.

Como escolher o melhor capacete?

O primeiro passo ao escolher o capacete é garantir que ele tenha o selo do INMETRO (no Brasil) ou certificações internacionais equivalentes, como CPSC, ASTM ou Snell, que atestam a conformidade do produto com testes de impacto e resistência. Eles indicam que o capacete passou por rigorosos ensaios de segurança e é capaz de proteger o cérebro em caso de queda ou colisão.

Depois, atente-se ao modelo certo para o tipo de atividade, já que cada modalidade tem riscos e necessidades específicas:

  • Ciclismo e patinete: modelos leves, com boa ventilação e cobertura total do crânio;
  • Skate, patins e esportes radicais: capacetes com laterais e parte traseira mais reforçadas, capazes de absorver múltiplos impactos;
  • Esportes na neve (esqui, snowboard): capacetes térmicos, com isolamento e presilhas compatíveis com óculos e equipamentos de frio;
  • Motocicletas e trânsito urbano: obrigatório capacete fechado ou com viseira, com certificação Denatran/INMETRO, que cubra toda a cabeça e o queixo.

O tamanho e o ajuste também precisam ser exatos — o capacete deve ficar firme, mas confortável, sem balançar ou apertar demais. As fitas laterais devem formar um “V” sob as orelhas, e o fecho do queixo deve permitir apenas um ou dois dedos de folga.

Fique de olho para que o fecho fique firme, pois se não estiver preso, o equipamento pode sair no momento do impacto, deixando a cabeça vulnerável a um segundo choque.

Também vale priorizar o conforto e a ventilação, já que crianças tendem a rejeitar capacetes quentes ou pesados. Modelos com aberturas de ar, acolchoamento removível e peso leve aumentam a chance de uso constante.

Por fim, é recomendável trocar o capacete a cada 3 a 5 anos, mesmo sem quedas, já que o material interno se desgasta com o tempo.

Capacete no trânsito é obrigatório

No Brasil, o uso do capacete é obrigatório para condutores e passageiros de motocicletas e ciclomotores, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O não cumprimento da regra é considerado infração gravíssima, com multa, pontos na carteira e possibilidade de retenção do veículo.

Mas, mais do que uma obrigação legal, a OMS e o Ministério da Saúde reforçam que capacetes seguros e de boa qualidade reduzem o risco de morte em até seis vezes. Ainda assim, em muitos países, especialmente os de baixa e média renda, o uso é baixo — seja por descuido, desinformação ou falta de fiscalização.

Entre os motivos que dificultam o uso de capacetes estão a baixa qualidade de modelos mais baratos, a falta de opções seguras para crianças e o calor excessivo em algumas regiões.

Outro problema comum é o uso incorreto do equipamento — muitas pessoas não ajustam o capacete corretamente, e ele pode se soltar no momento de uma queda ou batida.

Leia também: Cirurgia de coluna: 5 condições em que ela pode ser necessária

Perguntas frequentes

1. Existe diferença entre capacete de moto, bicicleta e esportes radicais?

Sim, existem diferenças importantes. O capacete de moto é projetado para suportar impactos de alta velocidade e cobre toda a cabeça e o rosto. Já os de bicicleta e patinete são mais leves, com ventilação melhor, mas ainda assim precisam ter o selo de segurança do Inmetro ou equivalente. Para esportes radicais como skate, BMX ou snowboard, os capacetes são reforçados nas laterais e na parte de trás, pois as quedas costumam acontecer em ângulos diferentes.

2. Qual é o tempo de vida útil de um capacete?

A maioria dos fabricantes recomenda substituir o capacete a cada cinco anos, mesmo que ele pareça em bom estado. Isso porque o material interno perde sua capacidade de absorver impacto com o tempo, especialmente se exposto ao sol, calor ou umidade. E se o capacete sofrer uma queda forte, mesmo que sem rachaduras visíveis, deve ser trocado imediatamente.

3. Existe diferença entre capacete masculino e feminino?

Na prática, a diferença está mais no design e nos tamanhos disponíveis, não na proteção. Alguns modelos femininos possuem ajustes que acomodam melhor o formato da cabeça ou o cabelo comprido, mas o que realmente importa é o conforto e a certificação de segurança.

4. O que devo fazer se sofrer uma queda usando capacete?

Mesmo que o capacete pareça intacto, ele pode ter perdido parte da sua capacidade de absorção, então é necessário substituí-lo. Observe também se houve sintomas neurológicos, como dor de cabeça, tontura ou confusão mental — nesses casos, procure atendimento médico imediatamente.

5. Como o capacete age em um acidente de trânsito?

Durante uma colisão, o capacete absorve parte da energia do impacto por meio de suas duas camadas: a externa, rígida, que espalha a força, e a interna, de espuma (EPS), que se comprime. Isso reduz a desaceleração brusca da cabeça e impede que o cérebro bata com tanta força nas paredes do crânio.

6. O uso de capacete é obrigatório em bicicletas elétricas?

No Brasil, quem utiliza bicicletas elétricas é obrigado a usar capacete, conforme determinam as resoluções do Contran. Além do capacete, também são obrigatórios campainha, farol dianteiro, luz traseira e lateral e espelhos retrovisores.

7. Posso usar um lenço ou touca por baixo do capacete?

Sim, desde que o tecido seja fino e não comprometa o encaixe. Toucas ou bandanas ajudam na higiene, mas o capacete deve continuar justo e firme. Qualquer material que crie folga pode reduzir a eficácia da proteção.

Leia também: Dor de cabeça: quando é normal e quando é sinal de alerta

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Escrito por Eli Paes

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