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PREVENÇÃO & LONGEVIDADE

Ozempic e similares podem reduzir risco de câncer ligado à obesidade?

Pesquisas sugerem que agonistas do GLP-1 podem reduzir risco de tumores ao diminuir a gordura corporal, mas faltam evidências

Dr. Thiago Chadid

Dr. Thiago Chadid

5min • 25 de out. de 2025

Pessoa aplicando injeção de medicamento agonista de GLP-1 na região abdominal, que está em estudo para a prevenção de câncer ligado à obesidade. 

O excesso de peso está relacionado a pelo menos 13 tipos de câncer

Considerada um importante problema de saúde pública, a obesidade é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de câncer. O acúmulo de gordura corporal provoca inflamação crônica e altera níveis hormonais, favorecendo a multiplicação de células cancerígenas.

Manter um peso saudável é essencial tanto para prevenir tumores malignos quanto para melhorar a resposta ao tratamento em quem já possui o diagnóstico. Nos últimos anos, alternativas como os agonistas do GLP-1 (como Ozempic e Wegovy), inicialmente desenvolvidos para tratar diabetes tipo 2, têm ganhado destaque no controle da obesidade.

Esses medicamentos aumentam a saciedade, retardam o esvaziamento gástrico e ajudam no controle da glicose, reduzindo o apetite e o peso corporal. Mas será que eles podem realmente mudar o cenário da prevenção do câncer? Veja o que dizem as pesquisas.

Qual a relação entre o excesso de peso e o câncer?

O câncer surge de alterações no DNA que levam ao crescimento desordenado de células. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), grande parte dos casos está ligada a hábitos como má alimentação, sedentarismo e excesso de peso.

O oncologista Thiago Chadid destaca que, a cada 5 pontos que o IMC sobe, o risco de câncer aumenta cerca de 15% em mulheres e 13% em homens. Isso significa que uma pessoa que passa de IMC 22 para 27 já tem aumento de cerca de 25% no risco de desenvolver câncer.

O risco está relacionado à gordura corporal, não apenas ao peso total. O excesso de gordura aumenta a probabilidade de câncer por três mecanismos principais:

  • Inflamação crônica: a gordura em excesso promove inflamação contínua, que facilita mutações genéticas e o crescimento de células anormais;
  • Desequilíbrio hormonal: há aumento de insulina e fatores de crescimento celular, que estimulam a proliferação tumoral;
  • Produção de estrogênio: em mulheres na pós-menopausa, a gordura abdominal torna-se a principal fonte de estrogênio, elevando o risco de câncer de mama.

O excesso de peso está associado a pelo menos 13 tipos de câncer, como os de pâncreas, fígado, rins, intestino, estômago, mama e vesícula biliar, além de possíveis vínculos com câncer de próstata avançado e linfomas.

O que são agonistas do GLP-1?

Os agonistas do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) são medicamentos criados para tratar diabetes tipo 2. Eles imitam a ação de um hormônio intestinal que estimula a liberação de insulina, reduz o apetite e retarda o esvaziamento gástrico, promovendo saciedade.

A semaglutida (Ozempic) é o exemplo mais conhecido. Além de controlar o metabolismo, age no sistema nervoso central, reduzindo a fome e facilitando dietas hipocalóricas, o que levou à sua adoção também no tratamento da obesidade.

Ao reduzir o excesso de gordura, esses fármacos diminuem inflamação e desequilíbrios hormonais, podendo teoricamente reduzir o risco de câncer. Mas as evidências ainda estão sendo estudadas.

Agonistas de GLP-1 e câncer: o que dizem as pesquisas científicas?

Os agonistas de GLP-1 são medicamentos recentes, e as evidências sobre seu impacto no risco de câncer ainda são iniciais, embora promissoras.

Um estudo publicado na JAMA Oncology com mais de 86 mil adultos com obesidade mostrou que o uso desses medicamentos reduziu o risco geral de câncer em cerca de 17%. Já uma análise nacional de 1,1 milhão de pacientes (revista Cancers, 2025) reforçou o potencial protetor — especialmente contra tumores de mama, próstata e trato gastrointestinal. A semaglutida mostrou forte proteção para cânceres digestivos.

Aumento discreto de risco

Apesar dos resultados positivos, alguns estudos observaram pequeno aumento de risco em casos específicos. A liraglutida foi associada a maior incidência de câncer de tireoide e pulmão em algumas populações, e a JAMA Oncology apontou aumento discreto (não significativo) de câncer renal.

Segundo os pesquisadores liderados por Hao Dai, os GLP-1 parecem ter efeito protetor em vários tipos de câncer, mas ainda é preciso acompanhar a longo prazo para entender melhor os mecanismos e possíveis riscos em órgãos específicos.

Thiago Chadid lembra que muitos estudos foram feitos com pessoas com diabetes tipo 2 — grupo que já tem risco maior de câncer — e que o grau de perda de peso influencia diretamente os resultados. Por isso, embora os dados sejam animadores, ainda não é possível afirmar com certeza que esses medicamentos previnem o câncer.

E para quem já teve câncer?

Não há evidências suficientes de que os agonistas de GLP-1 reduzam recidivas ou aumentem a sobrevida em quem já teve câncer. Também não se sabe se são totalmente seguros em pacientes com histórico de determinados tumores, como os de tireoide. O uso deve ser individualizado e decidido junto ao médico responsável.

Quais são os melhores hábitos para prevenir a obesidade?

O estilo de vida continua sendo o fator mais importante para prevenir obesidade e doenças associadas:

  • Alimentação equilibrada: prefira alimentos in natura e reduza ultraprocessados, fast food e bebidas açucaradas;
  • Atividade física regular: pratique pelo menos 150 minutos semanais de exercícios aeróbicos moderados e inclua treinos de força;
  • Sono de qualidade: dormir bem regula os hormônios da fome e da saciedade, como grelina e leptina;
  • Controle do estresse: o estresse crônico favorece ganho de peso; técnicas como meditação e respiração ajudam no equilíbrio emocional;
  • Hidratação adequada: beba água ao longo do dia e evite confundir sede com fome;
  • Evite álcool em excesso: é calórico e favorece o acúmulo de gordura e o risco de câncer.

Aliado aos hábitos, o acompanhamento médico e nutricional é fundamental para prevenir e tratar a obesidade de forma personalizada e segura.

Confira: Câncer de mama: o que é, sintomas, causa e como identificar

Perguntas frequentes

1. Quais tipos de câncer estão mais relacionados à obesidade?

Segundo o INCA, a obesidade está ligada a tumores de esôfago (adenocarcinoma), estômago (cárdia), pâncreas, fígado, vesícula biliar, intestino, rins, mama (pós-menopausa), ovário, endométrio, tireoide, meningioma e mieloma múltiplo. Também há indícios de relação com câncer de próstata avançado, linfomas e câncer de mama em homens.

2. Como a gordura corporal influencia no desenvolvimento do câncer?

A gordura corporal libera substâncias inflamatórias, altera hormônios e favorece a resistência à insulina, criando um ambiente propício para mutações celulares. Além disso, a gordura abdominal produz estrogênio em excesso, aumentando o risco de câncer de mama e endométrio.

3. Quem já teve câncer pode usar Ozempic?

Em teoria, reduzir o peso e a inflamação pode trazer benefícios, mas ainda não há estudos robustos que confirmem a segurança e eficácia do Ozempic em pessoas com histórico de câncer. O uso deve ser avaliado individualmente e nunca feito sem prescrição médica.

4. É possível prevenir a obesidade apenas com remédios?

Não. Os medicamentos não substituem hábitos saudáveis. A prevenção envolve alimentação equilibrada, atividade física, suporte psicológico e, quando necessário, tratamento médico.

5. Quanto de atividade física devo fazer para prevenir a obesidade?

O Ministério da Saúde recomenda 150 a 300 minutos semanais de exercícios moderados (como caminhada ou dança) ou 75 a 150 minutos de atividades vigorosas (como corrida ou natação), distribuídos em três a cinco dias por semana. Mesmo pequenas mudanças, como usar escadas ou caminhar mais, ajudam a manter o corpo ativo e o peso sob controle.

Leia também: Recidiva do câncer: por que ele pode voltar após o tratamento?

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Escrito por Dr. Thiago Chadid

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