Logo Propor

DOENÇAS & CONDIÇÕES

Câncer de próstata: veja por que você precisa ficar de olho

Como o câncer de próstata é uma doença que se desenvolve lentamente, identificá-lo ainda em fases iniciais aumenta as chances de cura

Dr. Thiago Chadid

Dr. Thiago Chadid

5min • 21 de nov. de 2025

A imagem mostra uma profissional de saúde vestindo jaleco, segurando uma prancheta e conversando com um homem sentado durante uma consulta de rotina para rastreio de problemas urológicos, como câncer de próstata. 

O câncer de próstata costuma surgir a partir de alterações genéticas que fazem as células prostáticas perderem o controle sobre o próprio ciclo de vida | Foto: Freepik

Sendo o segundo tumor mais comum em homens no Brasil, atrás somente do câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata costuma surgir de forma silenciosa, sem causar sintomas nas fases iniciais. Por crescer mais lentamente, ele tende a passar despercebido ao longos dos anos — e, em muitos casos, o diagnóstico só é feito durante exames de rotina

Quando é identificado ainda no início, o tratamento tende a ser menos agressivo e apresenta altas taxas de sucesso, evitando complicações e preservando a qualidade de vida. Entenda mais, a seguir.

O que é câncer de próstata e como se desenvolve?

O câncer de próstata é um tumor maligno que se origina nas células da glândula prostática, situada logo abaixo da bexiga e responsável por produzir parte do fluido seminal. A doença costuma surgir a partir de alterações genéticas que fazem as células prostáticas perderem o controle sobre o próprio ciclo de vida: deixam de morrer no ritmo esperado, passam a se multiplicar sem limite e formam um tumor.

Na maior parte dos casos, o crescimento acontece de forma lenta e silenciosa, e muitos homens sequer apresentam sintomas ao longo dos anos.

O processo normalmente começa com lesões microscópicas, chamadas de neoplasias intraepiteliais, que podem evoluir ao longo de anos até virar um tumor detectável. Durante a progressão, alterações no DNA das células vão se acumulando, favorecendo a expansão do tecido doente.

O que causa câncer na próstata?

As causas do câncer de próstata não são únicas ou conhecidas, mas a doença apresenta alguns fatores de risco importantes, como:

  • Idade: com o passar do tempo, o organismo acumula mutações naturais, e a capacidade de reparar danos no DNA diminui, favorecendo o surgimento de células malignas. Por isso, o risco de câncer de próstata cresce de maneira expressiva após os 50 anos;
  • Histórico familiar: homens com parentes de primeiro grau que tiveram a doença, como pai ou irmão, apresentam risco maior de desenvolver câncer de próstata
  • Sobrepeso e obesidade: o excesso de gordura corporal favorece inflamação crônica e alterações metabólicas que podem aumentar a probabilidade de tumores mais agressivos, além de dificultar a detecção em fases iniciais;
  • Tabagismo: substâncias tóxicas presentes no cigarro estão associadas a maior risco de neoplasias em geral, incluindo tumores prostáticos mais avançados;
  • Alimentação rica em gorduras saturadas: consumo frequente de carnes gordurosas, frituras e ultraprocessados pode contribuir para inflamação sistêmica e acúmulo de danos celulares;
  • Exposição ocupacional a substâncias químicas: contato prolongado com derivados do petróleo, pesticidas e compostos industriais pode elevar o risco em alguns grupos profissionais.

Segundo o oncologista Thiago Chadid, com o passar dos anos, com a queda progressiva da testosterona e o envelhecimento natural do organismo, a próstata costuma aumentar de tamanho, o que é algo normal.

As células podem apenas aumentar e se multiplicar sem mutações (quadro de hiperplasia benigna) ou podem sofrer mutações durante o envelhecimento, originando o adenocarcinoma (câncer de próstata).

Sintomas de câncer de próstata

Na fase inicial, o câncer de próstata tem uma evolução silenciosa e, na maioria dos casos, não apresenta sintomas. Quando isso acontece, o Ministério da Saúde aponta que podem surgir sinais semelhantes aos do crescimento benigno da próstata (hiperplasia benigna prostática), como:

  • Dificuldade de urinar;
  • Demora em começar e terminar de urinar;
  • Sangue na urina;
  • Diminuição do jato de urina;
  • Necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite.

Na fase avançada, o tumor pode provocar dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal.

Como é feito o diagnóstico de câncer de próstata?

O diagnóstico é feito por um médico urologista a partir de uma avaliação clínica e exames clínicos, laboratoriais e de imagem. O médico inicia pela análise de sintomas, histórico familiar, idade e fatores de risco. A partir daí, ele solicita exames capazes de identificar alterações na glândula mesmo antes do aparecimento de sinais clínicos, como:

  • PSA: exame de sangue que mede o antígeno prostático específico, proteína produzida pela próstata que pode subir diante de inflamação, hiperplasia benigna ou tumor;
  • Ultrassom de próstata: exame utilizado para avaliar tamanho, textura e possíveis áreas suspeitas, além de servir como guia para procedimentos complementares;
  • Toque retal: exame clínico que permite avaliar consistência, presença de nódulos ou regiões endurecidas incompatíveis com padrão normal.

Para confirmar o câncer de próstata é preciso fazer uma biópsia prostática, em que pequenos fragmentos de tecido são retirados da glândula com auxílio de agulhas finas guiadas por ultrassom ou ressonância magnética, para serem analisados em laboratório. A biópsia é indicada caso seja encontrada alguma alteração no exame de PSA ou no toque retal.

A partir de que idade os exames de rastreamento são indicados?

O acompanhamento preventivo normalmente começa entre 50 e 55 anos, período em que o risco de alterações prostáticas aumenta de forma significativa. Contudo, homens com maior vulnerabilidade, como aqueles com histórico familiar de câncer de próstata ou homens negros, devem iniciar a avaliação mais cedo, por volta dos 45 anos, conforme orientação da Sociedade Brasileira de Urologia.

Em situações específicas, quando o histórico familiar é muito forte ou há suspeita de predisposição genética, o urologista pode sugerir início ainda mais precoce, próximo dos 40 anos, sempre após avaliação individualizada.

O rastreamento costuma envolver PSA e, quando indicado, ultrassonografia de próstata ou toque retal, mas a decisão final sobre quais exames realizar e com que frequência deve ser tomada em conjunto com o médico, considerando riscos, benefícios e perfil clínico de cada paciente.

Importante: o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendam o rastreamento do câncer de próstata em homens sem sinais ou sintomas. A decisão sobre investigar ou não deve ser tomada após compreender riscos e benefícios, sempre em diálogo com um profissional de saúde de confiança.

O rastreamento é anual?

De acordo com Thiago, o intervalo anual costuma ser suficiente para identificar alterações, porque mais de 90% dos tumores crescem de forma lenta. Existem exceções, pois tumores muito agressivos podem evoluir mais rápido, mas são raros.

Mesmo assim, o homem deve ficar atento a sinais como sangue na urina, jato fraco, esforço para iniciar a micção, sensação de bexiga cheia após urinar e dor ao urinar ou evacuar. Quando os sintomas aparecem, é importante procurar o médico logo.

Grau de agressividade: como funciona a escala de Gleason?

A escala de Gleason é um sistema usado para medir a agressividade do câncer de próstata. O patologista analisa o tumor no microscópio, identifica dois padrões de crescimento celular e atribui notas de 1 a 5 para cada padrão. A soma gera o escore final, que varia de 2 a 10: quanto maior o valor, mais agressivo costuma ser o tumor.

De acordo com Thiago Chadid, o câncer de próstata tem diferentes graus de agressividade — e a escala de Gleason é fundamental para distinguir esses padrões. Quando o tumor é bem diferenciado, as células ainda se parecem com o tecido normal, então ele recebe notas mais baixas na escala de Gleason, geralmente até 6 ou 7, e tende a crescer mais devagar.

Quando é pouco diferenciado ou indiferenciado, as células perdem quase totalmente o padrão normal, crescem mais rápido e costumam ter Gleason 9 ou 10. Notas 7 e 8 representam uma faixa intermediária.

A classificação importa porque se relaciona ao comportamento do PSA. A hiperplasia prostática benigna, por exemplo, costuma elevar bastante o PSA, que normalmente fica entre 2 e 4 ng/mL. Assim, quando um homem de 60 ou 70 anos apresenta PSA de 6, 8 ou 10, é preciso investigar se o motivo é benigno ou maligno. Tumores bem diferenciados (que costumam ser menos agressivos) podem produzir bastante PSA, o que ajuda a diferenciar alterações benignas de malignas.

Já os tumores mais agressivos, os indiferenciados, muitas vezes não produzem PSA e podem aparecer com valores muito baixos, até próximos de zero. Nesses casos, o exame de toque retal é fundamental e permite detectar tumores agressivos que não elevam PSA e crescem de forma silenciosa.

Como é feito o tratamento de câncer de próstata?

O tratamento do câncer de próstata é definido de acordo com o tipo de tumor, o estágio da doença, o grau de agressividade pela escala de Gleason e o estado geral de saúde do paciente. A idade também pesa na escolha, segundo Thiago, porque o câncer se comporta de formas diferentes ao longo da vida, assim como a expectativa de vida e a capacidade de lidar com efeitos colaterais.

Entre as abordagens utilizadas, orientadas pelo médico, é possível destacar:

  • Cirurgia (prostatectomia radical): é indicada principalmente para pacientes jovens ou para tumores de alto risco. É um procedimento eficaz, mas pode deixar sequelas como disfunção erétil e incontinência urinária, ainda mais quando o tumor já ocupa área extensa da glândula;
  • Radioterapia: funciona como alternativa menos invasiva, mas pode causar inflamações crônicas da bexiga e do reto. Após radioterapia, não é possível operar a região, pois os tecidos ficam endurecidos e perdem elasticidade, dificultando intervenções no futuro;
  • Bloqueio hormonal (castração química): é o tratamento inicial padrão para tumores avançados, e reduz drasticamente a testosterona, o que desacelera o tumor. A queda hormonal provoca sintomas semelhantes aos da menopausa: calor (fogachos), pele seca, instabilidade de humor, alterações intestinais e boca seca. Há também a opção de orquiectomia, retirada cirúrgica dos testículos, mais comum no SUS;
  • Quimioterapia: é usada apenas nas linhas mais avançadas, quando a doença já ultrapassou limites locais ou não responde ao bloqueio hormonal. É uma etapa mais intensa, reservada para situações de progressão;
  • Imunoterapia: utilizada em casos selecionados, principalmente quando há alterações genéticas específicas ou quando o tumor não responde às terapias convencionais. Ela estimula o sistema imunológico a reconhecer e atacar células malignas, podendo ser combinada a outros tratamentos conforme avaliação médica.

Vale lembrar que a decisão é individualizada e leva em conta vários fatores que o urologista analisa para escolher o tratamento mais seguro e adequado para cada pessoa, sempre buscando controlar a doença sem prejudicar a qualidade de vida.

Câncer de próstata tem cura?

Quando diagnosticado ainda no início, o câncer de próstata pode chegar a 90% de chance de cura, segundo estudos. Thiago explica que é considerado cura quando, após o tratamento, o paciente passa 5 anos sem qualquer evidência da doença. O conceito vale principalmente para tumores mais agressivos e de evolução rápida.

Já tumores indolentes, como alguns de mama e próstata, podem voltar após 10, 15 ou até 20 anos. Por isso, nesses casos, é mais usado o termo remissão: ausência de doença ativa, mas sem tempo suficiente para afirmar cura definitiva.

Quando procurar ajuda médica?

Alguns sintomas exigem avaliação urgente, pois podem indicar complicações graves:

  • Febre ou sinais de infecção;
  • Tosse com secreção espessa;
  • Diarreia com sangue;
  • Vômitos com sangue;
  • Sangramento nasal ou retal em volume significativo (mais que uma colher de sopa);
  • Inchaço repentino em pernas, braços, rosto ou peito, que pode indicar trombose;
  • Dor intensa em membro inchado;
  • Palidez extrema, tontura, desmaios;
  • Boca seca e sinais de desidratação;
  • Diarreia intensa (mais de cinco episódios ao dia).

É possível prevenir o câncer de próstata?

A melhor forma de reduzir o risco de câncer de próstata é adotar hábitos mais saudáveis ao longo da vida, como:

  • Alimentação equilibrada: uma dieta rica em verduras, legumes, frutas, grãos integrais e peixes ajuda a reduzir inflamações e proteger as células da próstata. O consumo de carnes vermelhas gordurosas, frituras e ultraprocessados deve ser limitado, pois favorecem ganho de peso e piora metabólica;
  • Manutenção do peso adequado: o sobrepeso e obesidade aumentam o risco de tumores mais agressivos. Controlar peso por meio de alimentação balanceada e atividade física regular, além de reduzir o risco, também contribui para melhorar a saúde em geral;
  • Atividade física regular: praticar exercícios ao menos 150 minutos por semana melhora a imunidade, reduz inflamação, ajuda no controle hormonal e contribui para o equilíbrio metabólico, fatores que influenciam diretamente o risco de câncer;
  • Evitar tabagismo: o cigarro está associado a tumores mais agressivos e maior mortalidade. Parar de fumar reduz risco de várias doenças e melhora o prognóstico mesmo em quem já recebeu diagnóstico de câncer;
  • Redução de álcool em excesso: consumo exagerado pode aumentar inflamação e favorecer alterações celulares;
  • Atenção ao histórico familiar: homens com familiares de primeiro grau diagnosticados devem iniciar acompanhamento mais cedo, por volta dos 45 anos, ou ainda antes em situações específicas;
  • Controle de comorbidades: hipertensão, diabetes e colesterol elevado contribuem para inflamação crônica, que pode influenciar a saúde da próstata. Tratar essas condições ajuda a reduzir riscos.

Acompanhamento médico individualizado: a avaliação com o médico de confiança é importante para decidir quando e como investigar, considerando idade, histórico familiar e fatores de risco. Em alguns casos, PSA e toque retal são indicados após decisão compartilhada;

Evitar sedentarismo e rotina estressante sem controle: o estresse crônico pode impactar hormônios e sistema imunológico. Técnicas de relaxamento, sono adequado e equilíbrio entre trabalho e descanso contribuem para saúde global.

Leia também: Câncer: quais os principais fatores de risco?

Perguntas frequentes

1. Homens com câncer de próstata podem ter relações sexuais?

Homens com câncer de próstata podem ter relações sexuais, pois a próstata não é responsável pela ereção. Contudo, durante o tratamento, dependendo da resposta de cada pessoa, ele pode apresentar alguns problemas, como na ereção ou na libido.

Por isso, é importante que o paciente converse abortamento com o médico para encontrar maneiras de lidar com a situação e adaptar a vida sexual — o que inclui focar em mais intimidade e comunicação, e explorar tratamentos auxiliares para a disfunção erétil. Em alguns casos, o homem recupera a função sexual ao longo do tempo.

2. A atividade física reduz a chance de desenvolver câncer de próstata?

A prática regular de exercícios fortalece o sistema imune, melhora a circulação, reduz a inflamação e ajuda no equilíbrio hormonal, aspectos importantes para manter a próstata saudável.

Além disso, ela previne obesidade e melhora a composição corporal, fatores ligados a tumores mais agressivos. Atividades como caminhadas, musculação, natação, ciclismo e pilates já trazem benefícios quando realizados ao menos 150 minutos por semana.

3. Beber álcool em excesso prejudica a próstata?

O consumo excessivo de álcool está ligado a inflamação crônica e pior funcionamento do sistema imune. As bebidas alcoólicas também favorecem ganho de peso, piora metabólica e aumento de gordura abdominal, fatores que agravam risco de alterações prostáticas.

4. O que é próstata?

A próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga e à frente do reto. Ela tem tamanho semelhante ao de uma noz e produz parte do líquido que compõe o sêmen, ajudando na proteção e no transporte dos espermatozoides. Com o avanço da idade, tende a aumentar de volume, o que pode causar sintomas urinários.

5. O câncer de próstata é comum?

O câncer de próstata é um dos tumores mais frequentes em homens, sobretudo após os 50 anos, sendo o segundo mais comum em homens no Brasil. O risco aumenta com o envelhecimento, histórico familiar e algumas condições metabólicas. A maioria cresce de forma lenta, mas há tumores agressivos que exigem diagnóstico precoce.

6. Além do câncer de próstata, quais outros problemas podem acometer a próstata?

A próstata pode apresentar diversos problemas ao longo da vida. A hiperplasia prostática benigna, por exemplo, causa aumento da glândula e sintomas como jato fraco, dificuldade para urinar e sensação de esvaziamento incompleto.

Também podem ocorrer inflamações, como prostatites bacterianas ou não bacterianas, que provocam dor pélvica, desconforto ao urinar e febre em alguns casos.

7. Quando a avaliação com urologista deve começar?

Para homens sem fatores de risco, a discussão sobre exames costuma começar entre 50 e 55 anos. Para quem tem histórico familiar de primeiro grau ou pertence a grupos com maior risco, o acompanhamento inicia por volta de 45 anos. A decisão de realizar PSA ou toque retal é tomada após conversa sobre riscos e benefícios, sempre de forma individualizada.

Veja mais: Vacinas contra o câncer: o que está sendo testado (e o que esperar)

Inscreva-se em nossa newsletter

Receba semanalmente as últimas notícias da área da saúde, cuidado e bem estar.

Foto de Dr. Thiago Chadid

Escrito por Dr. Thiago Chadid

Sobre

Oncologista

Especialidades/Área de atuação

Oncologia - CRM/SP 115.872

Group Companies
Waves