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Câncer agressivo: o que significa e quais fatores determinam
A agressividade do câncer é medida por exames que avaliam o ritmo de crescimento e o índice de proliferação celular

Dr. Thiago Chadid
5min • 28 de nov. de 2025

Na oncologia, dizer que um câncer é “agressivo” significa que o tumor cresce rápido e se espalha com facilidade | Foto: Freepik
Quando o assunto é câncer agressivo, é comum associar o termo a uma sentença definitiva — algo que não pode ser controlado. No entanto, na medicina, a expressão tem um significado mais técnico e precisa ser entendida com calma.
O termo “agressivo” não quer dizer, necessariamente, que o câncer não tem tratamento, mas sim que apresenta um comportamento biológico mais rápido e imprevisível do que outros tipos.
Para entender como ele é caracterizado e quais fatores determinam esse perfil, conversamos com o oncologista Thiago Chadid. Confira!
O que define um “câncer agressivo”?
Na oncologia, dizer que um câncer é “agressivo” significa que o tumor cresce rápido e se espalha com facilidade, de acordo com Thiago. Em termos simples, as células cancerígenas se dividem e se espalham rapidamente, invadindo tecidos vizinhos e, em alguns casos, alcançando outras partes do corpo (metástase) em menos tempo do que o esperado.
A agressividade está relacionada à biologia do tumor, que pode variar bastante de um paciente para outro. Alguns tumores crescem de forma lenta, permanecendo localizados por meses ou anos, enquanto outros apresentam comportamento acelerado, mesmo em estágios iniciais.
A análise da agressividade é feita por meio de exames histopatológicos e moleculares, que permitem observar características como:
- Taxa de proliferação celular (Índice Ki-67): o Ki-67 é uma proteína presente em células de divisão. Um índice Ki-67 elevado indica que as células estão se multiplicando rapidamente, o que normalmente está associado a tumores mais agressivos;
- Grau histológico: avalia o quanto as células cancerosas se diferenciam das células normais do tecido de origem. Um grau baixo (bem diferenciado) aponta que as células se parecem mais com as normais e o tumor tende a ser menos agressivo. Já um grau alto (pouco ou indiferenciado) indica que células são muito anormais e o tumor tende a ser mais agressivo;
- Presença de mutações genéticas: análises moleculares identificam alterações no DNA que podem conferir ao tumor características de maior agressividade, como um crescimento acelerado ou resistência a certos tratamentos;
- Marcadores tumorais específicos: incluem proteínas ou outras substâncias que podem ser medidas e que fornecem informações prognósticas (como o futuro da doença) e preditivas (como o tumor responderá a um tratamento específico). Exemplos incluem os receptores hormonais (como estrogênio e progesterona) e o HER2 no câncer de mama, que influenciam diretamente o plano de tratamento.
Thiago ainda ressalta que agressividade é diferente de estágio. Um tumor pode ser biologicamente agressivo e, mesmo assim, ter ótimo prognóstico se for diagnosticado em fase inicial. Por outro lado, um tumor com baixo grau de agressividade pode ter prognóstico ruim caso seja diagnosticado em estágio avançado, com metástase ou invasão extensa.
A agressividade está ligada ao tamanho do tumor?
A agressividade nem sempre está associada ao tamanho do tumor, afinal um pequeno pode ser altamente agressivo, enquanto outro, grande, pode crescer lentamente e não apresentar risco imediato de metástase.
O tamanho do tumor é apenas um dos critérios avaliados no estadiamento do câncer. O que realmente define a agressividade é o comportamento biológico — isto é, como as células se multiplicam, interagem e resistem ao tratamento.
Vamos a um exemplo:
- Um câncer de mama triplo negativo tende a ser mais agressivo, mesmo que detectado em tamanho reduzido;
- Já alguns cânceres de próstata podem permanecer indolentes (sem sintomas e com crescimento lento) por anos, sem necessidade de intervenção imediata.
Portanto, a avaliação da agressividade depende de uma combinação de fatores clínicos, laboratoriais e genéticos, e não apenas das dimensões do tumor.
Quais tipos de câncer são considerados mais agressivos?
Cada tipo de câncer tem suas particularidades, e até dentro de uma mesma categoria há variações no comportamento. Alguns evoluem devagar e permanecem controlados por muito tempo, enquanto outros se desenvolvem de forma acelerada e tendem a se espalhar com mais facilidade.
Entre os que costumam ter uma progressão mais rápida e maior risco de metástase, é possível apontar:
- Câncer de pâncreas: costuma ser diagnosticado tardiamente, pois no início provoca poucos sintomas. É um dos tumores com maior capacidade de invadir tecidos vizinhos e de formar metástases precoces;
- Câncer de pulmão de pequenas células: apresenta multiplicação acelerada das células e alto risco de se espalhar para outros órgãos logo nas fases iniciais, exigindo tratamento intensivo;
- Câncer de fígado (hepatocarcinoma): tende a evoluir de forma rápida, especialmente em pessoas com doenças hepáticas crônicas, como cirrose ou hepatite viral;
- Câncer de mama triplo negativo: por não ter receptores hormonais nem a proteína HER2, responde menos a terapias específicas e costuma crescer de forma mais veloz, exigindo quimioterapia como base do tratamento;
- Leucemias agudas: provocam uma produção descontrolada de células imaturas na medula óssea, comprometendo rapidamente a formação normal do sangue e exigindo início imediato do tratamento;
- Glioblastoma multiforme: é um tumor cerebral de crescimento rápido, com alto risco de reaparecimento mesmo após cirurgia e tratamento complementar.
Um câncer agressivo é sinônimo de incurável?
O diagnóstico de um câncer agressivo não significa ausência de cura. Na prática, ele indica apenas que o tumor cresce e se espalha mais rápido, exigindo um tratamento ágil e bem direcionado. Isso não elimina as chances de controle ou cura, apenas torna o acompanhamento mais intenso.
Com o avanço da medicina oncológica, existem diversas formas eficazes de combater tumores agressivos, de acordo com o tipo e o estágio da doença, como:
- Quimioterapia combinada: utiliza diferentes medicamentos para atingir as células cancerígenas em várias fases do ciclo celular, ajudando a desacelerar ou interromper sua multiplicação. É uma das principais estratégias para tumores de crescimento rápido;
- Terapias-alvo: agem de forma precisa sobre mutações específicas que alimentam o crescimento do tumor, bloqueando os mecanismos que permitem que ele se desenvolva e se espalhe;
- Imunoterapia: estimula e fortalece o sistema imunológico do paciente, permitindo que o próprio corpo reconheça e destrua as células cancerígenas de forma mais eficiente;
- Radioterapia: utiliza doses controladas de radiação para destruir células tumorais em áreas localizadas, reduzindo o risco de recidiva. Pode ser usada antes ou depois da cirurgia, ou associada a outros tratamentos;
- Cirurgia oncológica: busca remover completamente o tumor e os tecidos afetados, quando isso é possível e seguro. Ela costuma ser combinada a outras terapias para garantir melhor resultado e prevenir o retorno da doença.
Com diagnóstico precoce, tratamento adequado e acompanhamento contínuo, mesmo um câncer classificado como agressivo pode ser controlado e ter um bom prognóstico.
Como saber se o câncer está avançando rapidamente?
Os sintomas variam conforme o tipo de câncer, mas alguns sinais podem indicar avanço rápido:
- Crescimento visível de nódulos ou massas;
- Dor persistente e de difícil controle;
- Perda de peso involuntária;
- Cansaço extremo;
- Febre sem causa aparente;
- Alterações em exames de sangue ou imagem em curto intervalo.
Os indícios não confirmam sozinhos a agressividade, mas exigem avaliação médica imediata.
O papel do diagnóstico precoce
Independentemente do tipo ou da agressividade do câncer, o diagnóstico precoce é o fator que mais influencia no sucesso do tratamento. Quanto mais cedo a doença é identificada, maiores são as chances de controle e de cura.
Manter os exames em dia, observar sintomas que persistem e conhecer o histórico familiar são atitudes que fazem diferença. Programas de rastreamento, como mamografia, exame de próstata, colonoscopia e Papanicolau, permitem detectar alterações ainda no início, antes que se tornem invasivas ou causem sintomas.
Por isso, mantenha sempre os exames de rotina em dia e procure atendimento médico ao notar qualquer alteração no corpo que persista por mais de algumas semanas. Pequenas mudanças, como um nódulo, sangramento inesperado, perda de peso sem explicação ou dor contínua, devem ser investigadas.
Leia também: Quais os principais fatores de risco para câncer?
Perguntas frequentes
Câncer agressivo é o mesmo que câncer avançado?
Não! O termo “agressivo” se refere à velocidade com que o tumor cresce e se multiplica, enquanto “avançado” indica o estágio da doença, ou seja, o quanto ela se espalhou.
Um câncer pode ser agressivo, mas estar em fase inicial, da mesma forma que um câncer de crescimento lento pode ser descoberto em estágio avançado. Assim, os dois conceitos são diferentes e exigem abordagens distintas.
Todo câncer agressivo forma metástase?
Nem sempre. Na verdade, apesar do câncer agressivo ter maior potencial para se espalhar, nem todos desenvolvem metástases — e isso depende da biologia do tumor, do tempo até o diagnóstico e da resposta ao tratamento.
Quando a doença é identificada precocemente, é possível conter o avanço e evitar que as células afetem outros órgãos.
Qual é a diferença entre prevenção e rastreamento do câncer?
A prevenção significa adotar medidas para reduzir o risco de desenvolver a doença, como não fumar, manter uma alimentação equilibrada e praticar atividades físicas regularmente. Já o rastreamento consiste em realizar exames regulares em pessoas sem sintomas, com o objetivo de detectar o câncer em fases iniciais.
Enquanto a prevenção atua para evitar o aparecimento da doença, o rastreamento possibilita o diagnóstico precoce, quando as chances de cura são muito maiores.
É verdade que o câncer pode voltar depois de tratado?
Sim, e isso é chamado de recidiva. Pode acontecer meses ou anos após o tratamento, dependendo do tipo de câncer, do estágio inicial e da resposta ao tratamento. Essa é uma das razões de que, mesmo após o fim do tratamento, o paciente deve manter um acompanhamento regular com um especialista.
O que posso fazer hoje para reduzir meu risco de câncer no futuro?
Adotar hábitos saudáveis no dia a dia é uma das melhores maneiras de prevenir o câncer e outras condições crônicas. Isso envolve medidas como:
- Evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool;
- Manter uma alimentação rica em frutas, legumes e grãos integrais;
- Praticar atividade física regularmente;
- Proteger-se do sol e usar sempre filtro solar;
- Manter o peso adequado;
- Realizar exames preventivos de acordo com a idade e o histórico de saúde, como mamografia e papanicolau;
- Evitar a exposição a agentes cancerígenos no trabalho;
- Manter o calendário vacinal atualizado.
Os cuidados ajudam a reduzir significativamente o risco de desenvolver câncer, fortalecem o organismo e contribuem para uma vida mais saudável e equilibrada.
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