DOENÇAS & CONDIÇÕES
Bradicardia: o que é, sintomas, causas e o que fazer
Em adultos, a bradicardia é caracterizada quando a frequência cardíaca fica abaixo de 60 batimentos por minuto (bpm)

Dra. Juliana Soares
5min • 1 de dez. de 2025

O termo bradicardia é usado para descrever uma frequência cardíaca abaixo de 50-60 batimentos por minuto (bpm) em adultos | Foto: Freepik
Você já sentiu o coração bater mais devagar? Durante o sono, após um treino intenso ou em momentos de relaxamento profundo, é normal que a frequência cardíaca diminua, uma condição conhecida como bradicardia. O corpo humano tem formas naturais de se adaptar, e o ritmo do coração muda conforme a quantidade de oxigênio e energia que o organismo precisa.
No entanto, quando a lentidão acontece em situações inadequadas ou vem acompanhada de cansaço, tontura e desmaios, pode indicar alterações no sistema elétrico do coração, desequilíbrios hormonais (como o hipotireoidismo) ou efeitos colaterais de remédios. Nesses casos, ela é conhecida como bradicardia patológica e requer a avaliação de um médico.
Mas como saber quando ela representa um risco? A seguir, explicamos por que a bradicardia acontece, quais são seus sintomas mais comuns e como é feito o diagnóstico.
O que é bradicardia?
O termo bradicardia é usado para descrever uma frequência cardíaca abaixo de 50-60 batimentos por minuto (bpm) em adultos. Em condições normais, o coração mantém um ritmo regular para bombear sangue adequadamente, mas quando o ritmo diminui demais, o fluxo sanguíneo pode ser insuficiente para atender às necessidades do corpo.
Existem situações em que a bradicardia é considerada fisiológica e não indica qualquer problema de saúde. Ela pode ser comum, por exemplo, durante o sono ou em atletas bem condicionados, cujos corações são mais eficientes e conseguem bombear sangue com menos batimentos.
Porém, em outras circunstâncias, a desaceleração pode ser patológica, indicando algum distúrbio no sistema elétrico do coração ou o efeito de doenças e medicamentos que interferem na condução dos impulsos elétricos responsáveis por coordenar as batidas cardíacas.
Nesse caso, o coração pode não ser capaz de manter o fluxo sanguíneo adequado, comprometendo o fornecimento de oxigênio para órgãos vitais, como cérebro, rins e músculos.
Por que atletas podem ter batimentos lentos sem risco?
De acordo com a cardiologista Juliana Soares, o treinamento físico intenso e regular aumenta a eficiência do músculo cardíaco, permitindo que ele bombeie uma quantidade maior de sangue a cada batimento. Por conta disso, o coração consegue suprir as necessidades do organismo com um número menor de batimentos por minuto, o que demonstra uma importante adaptação cardiovascular.
Assim, é comum que atletas, especialmente os de resistência (como maratonistas) e pessoas com excelente condicionamento físico apresentem bradicardia fisiológica, sem apresentar sintomas ou qualquer repercussão no organismo.
O que causa bradicardia?
A bradicardia pode ocorrer como uma resposta natural do organismo a determinadas situações, sem representar um problema de saúde. Isso acontece, por exemplo, durante o sono, quando o metabolismo fica mais lento e o corpo entra em estado de repouso, reduzindo naturalmente os batimentos cardíacos.
Além disso, situações de relaxamento profundo ou exposição ao frio podem diminuir temporariamente a frequência cardíaca, como um mecanismo fisiológico de economia de energia.
No entanto, em algumas circunstâncias, a bradicardia pode ser causada por doenças ou pelo uso de certos remédios. Entre as causas cardíacas, Juliana destaca:
- Doenças do nó sinusal, estrutura responsável por gerar e comandar os impulsos elétricos que controlam os batimentos do coração;
- Bloqueios cardíacos, que são interrupções ou atrasos na condução dos impulsos elétricos entre os átrios e os ventrículos;
- Infarto prévio e doenças cardíacas congênitas, que podem causar danos ao tecido cardíaco e comprometer o sistema elétrico do coração.
Entre as condições não cardíacas, também podem provocar bradicardia:
- Hipotireoidismo, devido à baixa produção dos hormônios da tireoide, que desacelera o metabolismo;
- Hipoglicemia, quando o nível de açúcar no sangue cai, afetando o funcionamento do sistema nervoso autônomo;
- Desequilíbrio de eletrólitos, como alterações nos níveis de potássio e magnésio, que interferem na condução elétrica cardíaca;
- Envelhecimento, que pode degenerar o sistema de condução elétrica natural do coração;
- Hipotermia, quando a temperatura corporal cai excessivamente, reduzindo o ritmo cardíaco;
- Miocardite, uma inflamação do músculo cardíaco que compromete a capacidade do coração de gerar impulsos elétricos adequados.
Entre os medicamentos que podem reduzir o ritmo cardíaco, estão os betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, antiarrítmicos e antidepressivos tricíclicos.
Quais são os sintomas da bradicardia?
Os sintomas de bradicardia variam conforme o grau de comprometimento da circulação sanguínea. Algumas pessoas permanecem assintomáticas (sem sintomas), enquanto outras apresentam sinais mais evidentes, como:
- Cansaço excessivo, mesmo em atividades leves;
- Tontura ou sensação de cabeça leve;
- Falta de ar;
- Dor ou pressão no peito;
- Desmaios (síncope);
- Confusão mental ou dificuldade de concentração;
- Pele fria e pálida.
Em casos mais graves, a bradicardia pode causar parada cardíaca, especialmente quando há falha total na condução elétrica.
Como é feito o diagnóstico da bradicardia?
O diagnóstico da bradicardia é realizado por meio de uma avaliação clínica e exames específicos. Segundo Juliana, o principal é o eletrocardiograma (ECG), que registra a atividade elétrica do coração e permite identificar a frequência e o ritmo dos batimentos.
O médico também pode solicitar o Holter de 24 horas, que monitora o ritmo cardíaco continuamente ao longo de um dia inteiro, possibilitando detectar episódios de bradicardia que ocorrem durante o sono, o repouso ou as atividades cotidianas.
Podem ser pedidos ainda o ecocardiograma (ultrassom do coração), que avalia a estrutura e a função cardíaca, e exames de sangue para investigar causas reversíveis, como alterações nos níveis de potássio, magnésio ou hormônios da tireoide.
Como é feito o tratamento da bradicardia?
O tratamento da bradicardia depende da causa e da presença de sintomas, pois nem toda frequência cardíaca lenta requer intervenção médica.
Quando o ritmo reduzido é provocado por medicamentos, o médico pode ajustar a dose, trocar ou suspender o uso, caso seja seguro. Em situações em que a bradicardia está associada a doenças como hipotireodismo, desequilíbrios de eletrólitos ou apneia do sono, o foco é corrigir essas condições — o que normalmente leva à normalização do ritmo cardíaco.
Além do tratamento médico, para manter o coração saudável e reduzir o risco de complicações relacionadas à bradicardia, alguns cuidados são recomendados:
- Parar de fumar;
- Evitar o consumo excessivo de álcool e cafeína;
- Manter uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes;
- Controlar o peso corporal;
- Praticar atividade física regular, sempre com orientação profissional;
- Realizar consultas periódicas com o cardiologista;
- Monitorar a frequência cardíaca, especialmente em quem usa remédios que afetam o ritmo do coração;
- Controlar doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e distúrbios da tireoide.
Quando o marcapasso é necessário?
Quando há falhas significativas no sistema de condução elétrica do coração, o tratamento pode exigir o implante de um marcapasso definitivo.
O dispositivo, de tamanho reduzido, é colocado sob a pele e tem a função de emitir impulsos elétricos regulares que estimulam o coração a bater em uma frequência adequada e estável, prevenindo sintomas como tonturas, desmaios e fraqueza decorrentes da bradicardia.
De acordo com Juliana, entre as principais indicações estão os bloqueios atrioventriculares avançados, como:
- Bloqueio atrioventricular de segundo grau tipo Mobitz II, caracterizado por interrupções súbitas e imprevisíveis dos batimentos cardíacos;
- Bloqueio atrioventricular de terceiro grau (bloqueio total), no qual há interrupção completa da comunicação elétrica entre átrios e ventrículos, fazendo com que o coração dependa de um ritmo de escape, muito lento e instável.
Os bloqueios podem surgir em decorrência da degeneração natural pelo envelhecimento, doença arterial coronariana, infarto prévio, miocardites, doença de Chagas ou uso prolongado de determinados medicamentos.
Quando o remédio responsável pela bradicardia é indispensável e não existe outra alternativa segura, o implante de marcapasso também pode ser necessário para garantir a frequência cardíaca adequada.
Como prevenir a bradicardia patológica?
O principal meio de reduzir os riscos é controlar os fatores de risco cardiovascular e manter hábitos saudáveis, como aponta Juliana:
- Manter uma alimentação equilibrada e controlar o peso;
- Praticar atividade física regularmente;
- Evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool;
- Controlar doenças crônicas como hipertensão, diabetes e hipotireoidismo;
- Seguir sempre as orientações médicas e não usar medicamentos sem prescrição.
Com os cuidados e acompanhamento médico periódico, é possível detectar alterações precocemente e prevenir complicações associadas à bradicardia.
Confira: Saiba quando os batimentos acelerados estão relacionados a uma arritmia cardíaca
Perguntas frequentes
A bradicardia é perigosa?
A bradicardia nem sempre é sinal de problema, e existem casos em que o coração lento é apenas uma adaptação do organismo — como em atletas, pessoas com excelente condicionamento físico ou durante o sono. Nesses casos, o coração é mais eficiente e consegue bombear sangue suficiente com menos batimentos, sem causar sintomas.
O problema ocorre quando a lentidão impede o corpo de receber oxigênio adequadamente, levando a tontura, fraqueza, falta de ar ou desmaios. É nessa situação que a bradicardia precisa ser investigada, pois pode indicar doenças cardíacas, distúrbios hormonais ou efeitos colaterais de medicamentos.
A bradicardia pode causar morte súbita?
Em situações extremas, sim. Quando o coração bate muito lentamente e o fluxo sanguíneo cai de forma acentuada, pode haver colapso circulatório e parada cardíaca. Isso é mais comum em bloqueios cardíacos graves ou em pacientes com doenças estruturais do coração.
Porém, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, o risco de morte súbita é bem baixo. O acompanhamento médico regular é muito importante para prevenir complicações!
Meus batimentos cardíacos estão lentos, quando devo procurar um médico?
Procure um médico se notar os batimentos muito lentos, tontura, cansaço, falta de ar ou episódios de desmaio deve procurar um cardiologista. Mesmo que os sintomas sejam leves, é importante investigar a causa — e o diagnóstico precoce evita complicações e permite o tratamento adequado.
Em casos de dor no peito, desmaio súbito ou falta de ar intensa, procure atendimento de emergência imediatamente, pois podem ser sinais de uma bradicardia grave ou de outro problema cardíaco.
A bradicardia pode causar desmaios?
A bradicardia pode diminuir o fluxo de sangue e oxigênio para o cérebro, provocando tontura, visão turva e desmaios súbitos (síncopes). Em casos leves, a pessoa apenas sente fraqueza, mas em situações mais graves, pode perder a consciência por alguns segundos. A repetição dos episódios é um sinal de alerta e requer investigação médica imediata, pois pode indicar bloqueio elétrico no coração.
Quem tem bradicardia pode fazer atividade física?
Depende! Se a bradicardia for fisiológica e a pessoa estiver sem sintomas, a prática de atividade física regular traz muitos benefícios e é recomendada. Já em casos patológicos, o médico deve avaliar o tipo e a intensidade do exercício mais seguros.
Em pacientes com marcapasso, por exemplo, o treino deve ser monitorado e adaptado para evitar esforço excessivo. O importante é não se exercitar sem liberação médica quando há diagnóstico de bradicardia.
Veja também: Arritmia cardíaca: quando os batimentos fora de ritmo merecem atenção

