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CHECK-UPS & EXAMES

Autoexame: como detectar precocemente diferentes tipos de câncer

Saiba como o autoexame pode ajudar a identificar sinais suspeitos de câncer e quando procurar ajuda médica

Dr. Thiago Chadid

Dr. Thiago Chadid

5min • 17 de set. de 2025

Autoexame: como detectar precocemente diferentes tipos de câncer

Um dos principais desafios de saúde pública no mundo, o câncer representa a segunda principal causa de morte no Brasil, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares, segundo dados do Ministério da Saúde. Apesar da gravidade, quanto mais cedo a doença é descoberta, maiores são as chances de cura e menores os impactos dos tratamentos.

Por isso, além de manter uma rotina de exames de prevenção (que dependem de questões como idade e fatores individuais), o autoexame pode ser usado como uma importante ferramenta no diagnóstico precoce.

Ele não é um exame diagnóstico e não substitui consultas médicas ou exames de rastreamento, mas ajuda a pessoa a conhecer melhor o próprio corpo e perceber rapidamente quando algo não está normal — como um nódulo, uma mancha diferente ou uma ferida que não cicatriza.

Nesse contexto, conversamos com um especialista para esclarecer as principais dúvidas sobre o autoexame e entender como ele pode contribuir na detecção precoce de diferentes tipos de câncer. Confira, a seguir, algumas orientações práticas e sinais de alerta para ficar de olho.

O que é o autoexame e por que ele é importante?

O autoexame é o hábito de observar, tocar e conhecer o próprio corpo para identificar alterações que possam ser sinais iniciais de alguma doença, como o câncer. Ele pode ser feito em casa, sem a necessidade de equipamentos ou técnicas complexas.

Com ele, é possível perceber mudanças que normalmente passariam despercebidas, como um caroço, uma mancha que aumenta de tamanho, uma ferida que não cicatriza ou até uma secreção diferente.

A prática fortalece a consciência corporal, isto é, ajuda a pessoa a conhecer melhor o funcionamento normal do seu corpo. Quando você cria o hábito de se observar com frequência, fica muito mais fácil notar algo que não estava ali antes ou que mudou de aspecto ao longo do tempo. Pequenas alterações podem ser percebidas logo no início, antes mesmo de causarem sintomas mais graves.

Vale lembrar que o autoexame não deve substituir as consultas médicas de rotina nem os exames de rastreamento indicados para cada faixa etária, como a mamografia ou a colonoscopia.

Como realizar o autoexame?

Não existe um único método para realizar o autoexame, já que cada parte do corpo exige atenção específica. O mais importante é manter o hábito, observar a rotina normal do seu corpo e procurar ajuda sempre que notar alterações.

Autoexame das mamas

O autoexame das mamas ajuda a pessoa a conhecer melhor o próprio corpo e permite identificar possíveis alterações.

Para realizá-lo, o melhor momento é de 7 a 10 dias após o início da menstruação, quando as mamas estão menos inchadas e doloridas. Mulheres que já não menstruam podem escolher sempre o mesmo dia do mês para manter o hábito.

O autoexame das mamas pode ser feito das seguintes maneiras:

  • Diante do espelho: eleve e abaixe os braços. Observe se há alguma anormalidade na pele, alterações no formato, abaulamentos ou retrações.
  • Durante o banho: com a pele molhada ou ensaboada, eleve o braço direito e deslize os dedos da mão esquerda suavemente sobre a mama direita estendendo até a axila. Faça o mesmo na mama esquerda.
  • Deitada: coloque um travesseiro debaixo do lado esquerdo do corpo e a mão esquerda sob a cabeça. Com os dedos da mão direita, apalpe a parte interna da mama. Inverta a posição para o lado direito e apalpe da mesma forma a mama direita.

Entre os sinais de alerta para ficar de olho, o oncologista Thiago Chadid aponta:

  • Nódulo persistente e duro, pouco móvel;
  • Alterações de pele (aspecto “casca de laranja”, retrações);
  • Alteração/retração do mamilo;
  • Secreção anormal;
  • No caso de caroços dolorosos que surgem após uma batida, vale a avaliação se não melhorar com o tempo, pois pode ser inflamatório e indicativo de câncer.

O especialista lembra que, na fase reprodutiva, a mama muda com o ciclo (glândulas incham), então caroços “cíclicos” podem ser benignos.

Caso você encontre alguma das anormalidades citadas, lembre-se que é importante procurar atendimento médico. Apenas um especialista pode orientar e realizar o diagnóstico adequado.

Autoexame dos testículos

O câncer de testículo é mais comum em homens jovens, entre 15 e 35 anos, e normalmente se manifesta a partir de um nódulo duro e indolor em um dos testículos, ou um inchaço ou aumento de volume do testículo.

Para realizar o autoexame dos testículos, siga as orientações:

  • O momento ideal é após o banho quente, quando a pele do escroto está relaxada;
  • Com as duas mãos, segure cada testículo e palpe delicadamente usando os dedos indicador e médio, com o polegar em cima;
  • Sinta toda a superfície do testículo, procurando caroços, nódulos ou áreas endurecidas;
  • É normal sentir uma estrutura macia atrás de cada testículo, chamada epidídimo. Ela não deve ser confundida com um nódulo;
  • Compare o tamanho dos dois testículos. Pequenas diferenças são comuns, mas aumento repentino de volume deve ser investigado.

O ideal é realizar o autoexame uma vez ao mês. Se você notar alterações, agende consulta com um urologista.

Autoexame da pele

O câncer de pele é o tumor mais comum no Brasil e no mundo, que surge do crescimento anormal das células da pele, frequentemente causado pela exposição excessiva à radiação solar. Durante o autoexame, o oncologista Thiago Chadid aponta que é importante observar sinais como:

  • Manchas que mudam (de tamanho, cor ou borda);
  • Feridas que não cicatrizam;
  • Manchas brancas na boca;
  • Alterações visíveis nos olhos.

Para realizá-lo, escolha um ambiente bem iluminado, de preferência com um espelho grande. Examine todo o corpo, inclusive costas, couro cabeludo, plantas dos pés e entre os dedos. Se possível, peça ajuda de alguém para observar áreas difíceis.

Use a regra do ABCDE para avaliar pintas:

  • A: Assimetria: uma metade diferente da outra;
  • B: Bordas irregulares;
  • C: Cor variada (preta, marrom, vermelha ou azul);
  • D: Diâmetro maior que 6 mm;
  • E: Evolução rápida: mudança de tamanho, forma ou cor.

Além disso, desconfie de manchas que coçam, descamam ou sangram. Se identificar algo suspeito, procure um dermatologista.

Autoexame da boca

O câncer de boca é um tumor que afeta lábios, língua, gengivas, bochechas, céu da boca e assoalho da boca. Ele pode se apresentar como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, feridas que não cicatrizam em até 15 dias, caroços na boca ou no pescoço e rouquidão persistente.

Para realizar o autoexame, fique em frente ao espelho, em ambiente bem iluminado. Depois, abra a boca e observe:

  • Lábios: parte interna e externa;
  • Gengivas e bochechas: veja se há manchas ou feridas;
  • Língua: observe toda a superfície, inclusive a parte debaixo;
  • Céu da boca: observe a região próxima à garganta.

Com as mãos limpas, apalpe a parte interna da boca e o pescoço para perceber nódulos ou áreas doloridas. Se encontrar qualquer lesão que não cicatrize ou manchas que persistam por mais de 15 dias, procure um dentista ou médico especializado.

O autoexame ajuda a detectar câncer colorretal ou de estômago?

Não, pois esses tipos de câncer não apresentam sinais visíveis no início. A detecção precoce depende de exames específicos, como colonoscopia ou endoscopia, indicados conforme idade e histórico familiar por um profissional da saúde.

Leia também: Entenda a diferença entre tumor benigno e maligno

Com que frequência o autoexame deve ser feito?

A recomendação é mensal, de preferência em momentos em que o corpo esteja relaxado, como após o banho. O mais importante é a regularidade, para que pequenas mudanças sejam notadas com facilidade.

É importante entender que o autoexame não precisa ser algo demorado: em poucos minutos você consegue observar e palpar as principais áreas do corpo, conhecendo melhor as características do próprio corpo.

Existem pontos negativos?

Apesar de ser uma prática útil, o autoexame também tem limitações. Primeiro, ele não substitui consultas médicas nem exames clínicos e de imagem, como mamografia, ultrassonografia, colonoscopia ou biópsia. Ele serve apenas como uma ferramenta de observação inicial, para identificar alterações suspeitas que merecem investigação.

O oncologista Thiago Chadid aponta que o autoexame pode levar a um aumento de consultas desnecessárias, sobrecarregando o sistema de saúde com casos que não representam um risco real.

Além disso, ele exige educação em saúde, pois nem sempre é fácil diferenciar o que é normal do que é suspeito. Assim, há chance de interpretações equivocadas, que levam tanto a falsos alarmes quanto ao risco de subestimar sinais importantes.

Por isso, o ideal é que o autoexame seja sempre feito apenas como uma forma complementar de cuidado, em conjunto com o acompanhamento médico regular.

Confira: Imunoterapia: a estratégia que transforma o corpo em arma contra o câncer

Perguntas frequentes

1. Homens também devem fazer autoexame das mamas?

Sim. É raro e representa apenas cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama diagnosticados, mas a doença pode afetar homens, uma vez que eles também possuem glândulas mamárias e hormônios femininos (estrogênio) em baixas quantidades.

Eles devem ficar atentos a nódulos próximos ao mamilo, secreções com sangue, dor localizada ou alterações na pele da região.

2. Qual a diferença entre autoexame e rastreamento?

O autoexame é uma prática de autocuidado feita em casa pela própria pessoa. Ele serve para aumentar a consciência corporal e identificar alterações visíveis ou palpáveis, mas não é capaz de confirmar diagnósticos.

Já o rastreamento é conduzido por profissionais de saúde, por meio de consultas e exames clínicos. O rastreamento deve ser orientado por um profissional, e depende de fatores como idade, sexo e fatores de risco, sendo fundamental para detectar doenças silenciosas que o autoexame não consegue identificar.

3. Quanto tempo leva para fazer um autoexame completo?

Um autoexame não leva muito tempo: você pode realizá-lo entre 5 e 10 minutos. É um tempo curto que pode ser encaixado na rotina mensal — especialmente após o banho, quando o corpo está relaxado. O mais importante é ter calma e atenção, sem pressa, para observar a pele, palpar as mamas ou testículos, e inspecionar a boca diante do espelho.

4. Se eu encontrar um caroço, significa que é câncer?

Não necessariamente. Muitos caroços podem ser cistos, lipomas (nódulos de gordura) ou inflamações benignas, que não oferecem risco. Apenas um médico pode diferenciar uma alteração benigna de um câncer.

Por isso, qualquer caroço ou nódulo persistente deve ser avaliado em consulta médica, com exames complementares como ultrassonografia, biópsia ou ressonância.

5. O autoexame substitui a mamografia?

Não. Ele é apenas um complemento. A mamografia detecta tumores pequenos, invisíveis ao toque, e continua sendo o exame mais eficaz para rastreamento.

6. Quais sinais devo procurar no autoexame das mamas?

Durante o autoexame das mamas, fique atenta a presença das seguintes alterações:

  • Caroços endurecidos;
  • Retração ou ondulação da pele;
  • Secreção sanguinolenta ou transparente no mamilo;
  • Alterações no tamanho ou formato da mama;
  • Vermelhidão ou feridas na região.

Leia também: 7 sintomas iniciais de câncer que não devem ser ignorados

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Escrito por Dr. Thiago Chadid

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