DOENÇAS & CONDIÇÕES
Artrite reumatoide: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento
Quando não tratada, a inflamação pode destruir a cartilagem e o osso, causando deformidades permanentes nas articulações
Dra. Flávia Alexandra Guerrero
5min • 12 de out. de 2025

Causada por alterações no sistema imunológico ou um quadro infeccioso, a artrite reumatoide é uma doença crônica que afeta mais de 2 milhões de brasileiros, segundo dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Nos casos mais graves, pode haver perda de mobilidade e até o comprometimento de órgãos como pulmões, coração e vasos sanguíneos.
Conversamos com a reumatologista Flavia Alexandra Guerrero para entender como a doença se manifesta, os primeiros sintomas e os principais meios de tratamento disponíveis atualmente.
O que é artrite reumatoide?
A artrite reumatoide é uma doença autoimune inflamatória crônica em que o próprio sistema imunológico, que deveria proteger o corpo contra infecções, passa a atacar tecidos saudáveis — em especial as articulações.
De acordo com Flávia, o processo começa com a produção de autoanticorpos, que desencadeiam uma inflamação persistente. Ela, por sua vez, provoca sintomas como dor, inchaço e, ao longo do tempo, pode levar à deformidade articular.
Além disso, vale apontar que a artrite reumatoide é caracterizada por uma evolução crônica. Ela não se manifesta de maneira súbita, como ocorre em uma lesão, mas se desenvolve progressivamente ao longo de semanas ou meses.
As articulações mais afetadas costumam ser as das mãos, punhos e pés, com um padrão específico de simetria — ou seja, geralmente ambos os lados do corpo são comprometidos.
Existem fatores de risco para a artrite reumatoide?
A artrite reumatoide surge da interação entre predisposição genética e fatores ambientais. De acordo com Flávia, o principal fator de risco ambiental é o tabagismo, uma vez que o cigarro modifica o sistema imunológico, favorecendo a produção de autoanticorpos que desencadeiam a inflamação articular.
Outros fatores também podem estar relacionados, como:
- Histórico familiar da doença;
- Infecções prévias que estimulam o sistema imunológico;
- Exposição a substâncias tóxicas;
- Alterações hormonais (a doença é mais comum em mulheres).
Nem todos os fatores de risco podem ser controlados, mas parar de fumar é uma das estratégias mais eficazes para reduzir a probabilidade da doença e melhorar a resposta ao tratamento.
Quais são os sintomas da artrite reumatoide?
Os sintomas da artrite reumatoide são discretos e podem ser confundidos com outras condições de saúde, então é necessário ter atenção. Segundo Flávia, os primeiros sinais costumam ser:
- Dor persistente nas articulações das mãos, punhos e pés;
- Inchaço (edema) articular;
- Rigidez matinal que dura mais de 30 minutos;
- Dificuldade para fechar as mãos ou realizar tarefas simples.
A dor da artrite reumatoide é inflamatória, ou seja, piora quando a pessoa está em repouso por longos períodos. É comum acordar pela manhã com rigidez articular e dificuldade para movimentar os dedos. Após algumas horas de atividade, os sintomas tendem a melhorar, mas retornam no dia seguinte.
A especialista ainda alerta que a artrite reumatoide, apesar de acometer principalmente as articulações, também pode atingir outros órgãos — como pulmão e nervos periféricos, provocando sintomas como fadiga intensa, febre baixa e perda de peso não intencional.
Como é feito o diagnóstico da artrite reumatoide?
O diagnóstico da artrite reumatoide é feito por um médico reumatologista, a partir de uma avaliação clínica, que inclui uma análise detalhada das queixas do paciente e um exame físico. Para confirmar o quadro, o médico pode solicitar alguns exames, como:
- Exames de sangue: que procuram marcadores específicos, como fator reumatoide e anticorpo anti-CCP;
- Exames de imagem: como radiografia, ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética, que permitem visualizar inflamação e erosões articulares.
O processo também é importante para diferenciar a artrite reumatoide de outras doenças reumatológicas, como lúpus, gota ou espondiloartrites.
Tratamento da artrite reumatoide
O tratamento da artrite reumatoide varia de acordo com o estágio da doença, a atividade e gravidade.
De acordo com Flávia, a abordagem é feita com remédios imunossupressores, que reduzem a atividade do sistema imunológico, controlando a inflamação. Em alguns casos, também podem ser indicados medicamentos biológicos, que atuam de forma mais direcionada no processo autoimune.
No caso dos corticoides, a reumatologista explica que eles geralmente são indicados no início do tratamento ou durante recaídas da doença, sendo utilizados até que o imunossupressor comece a fazer efeito.
Em alguns casos, pode haver indicação de tratamento cirúrgico. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, as opções incluem a sinovectomia, indicada quando a sinovite persiste mesmo após o tratamento clínico, além de procedimentos como artrodese ou artroplastia total, usados quando as articulações já estão mais comprometidas.
Mudanças na rotina
Além da medicação, o tratamento deve envolver algumas mudanças no estilo de vida, como:
- Atividade física regular: ajuda a controlar a inflamação, fortalece a musculatura ao redor das articulações e contribui para preservar a mobilidade;
- Alimentação equilibrada: o recomendado é reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e priorizar opções ricas em nutrientes com efeito anti-inflamatório, como frutas, verduras, peixes e oleaginosas;
- Fisioterapia e terapia ocupacional: fundamentais para preservar a função articular, melhorar a postura, ensinar estratégias de proteção das articulações e adaptar atividades do dia a dia, evitando sobrecarga;
- Parar de fumar: já que o cigarro está diretamente associado ao agravamento dos sintomas e pode comprometer a eficácia dos medicamentos.
O acompanhamento médico também deve ser constante para ajustar a medicação e o tratamento conforme a evolução de cada paciente.
Como prevenir a artrite reumatoide?
Por se tratar de uma doença autoimune, a artrite reumatoide não pode ser totalmente prevenida. Ainda assim, adotar um estilo de vida saudável ajuda a reduzir o risco de agravamento e, sobretudo, a melhorar o controle da doença. Algumas medidas importantes incluem:
- Não fumar;
- Manter uma rotina de atividades físicas, como natação, hidroginástica, pilates e alongamentos;
- Ter uma alimentação balanceada, com menor consumo de ultraprocessados, dando preferência a alimentos naturais e ricos em nutrientes;
- Controlar fatores de estresse, através de técnicas de relaxamento, sono adequado e equilíbrio emocional.
Existe cura para artrite reumatoide?
Não existe cura definitiva para a artrite reumatoide, mas com tratamento adequado, é possível alcançar a chamada remissão da doença — quando o paciente não apresenta sintomas, não tem sinais de inflamação e pode levar uma vida normal.
Complicações da artrite reumatoide
A artrite reumatoide não tratada pode trazer consequências graves para a saúde e para a qualidade de vida do paciente. Por ser uma doença inflamatória crônica, o processo evolui de forma progressiva, causando danos permanentes às articulações.
De acordo com Flávia, quando a doença não é tratada desde o início, ela pode levar à destruição irreversível das articulações, deformidades e perda de função. Isso significa dificuldade para realizar tarefas simples do dia a dia, como segurar objetos, caminhar ou até mesmo vestir uma roupa sozinho.
“Então, quanto mais precoce for o início desse tratamento, maior a chance de eu garantir que o meu paciente vai ter uma preservação da funcionalidade daquela articulação no futuro”, finaliza a reumatologista.
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Perguntas frequentes sobre artrite reumatoide
1. Artrite reumatoide e artrose são a mesma coisa?
Não. A artrite reumatoide é uma doença autoimune inflamatória, em que o sistema imunológico ataca o próprio corpo, provocando uma inflamação crônica.
Já a artrose, também chamada de osteoartrite, é um desgaste mecânico da cartilagem articular, que geralmente ocorre com o envelhecimento ou com sobrecarga repetitiva das articulações.
2. A artrite reumatoide só atinge pessoas idosas?
Não. Ao contrário da artrose, que é mais comum em pessoas acima dos 50 anos, a artrite reumatoide pode surgir em qualquer fase da vida adulta. Na maioria dos casos, ela aparece entre os 30 e 50 anos, e é mais frequente em mulheres.
3. Artrite reumatoide pode afetar órgãos além das articulações?
Sim! Apesar de afetar principalmente as articulações, a artrite reumatoide pode comprometer outros órgãos em casos avançados, como pulmões, coração, nervos periféricos, olhos e vasos sanguíneos.
Isso aumenta o risco de complicações graves, como doenças cardiovasculares e problemas respiratórios. Por isso, o acompanhamento médico deve ser contínuo e integral.
4. Crianças podem ter artrite reumatoide?
Quando ocorre em crianças e adolescentes, a condição recebe o nome de artrite idiopática juvenil. Ela compartilha características semelhantes à artrite reumatoide em adultos, como inflamação e rigidez articular, mas possui particularidades no diagnóstico e no tratamento. A causa é desconhecida, mas há uma predisposição genética e uma alteração no sistema imune.
Nesses casos, é fundamental o acompanhamento especializado, pois o impacto sobre o crescimento e o desenvolvimento físico pode ser significativo.
5. A artrite reumatoide é hereditária?
A doença não é herdada diretamente, mas existe uma predisposição genética. Isso significa que pessoas com histórico familiar de artrite reumatoide têm maior risco de desenvolver a condição, principalmente se houver fatores ambientais associados, como o tabagismo.
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