DOENÇAS & CONDIÇÕES
Apneia do sono e a saúde do coração: uma conexão perigosa
Quem tem apneia do sono pode parar de respirar durante o sono; conheça as consequências para a saúde e como identificar o problema

Dra. Juliana Soares
5min • 4 de set. de 2025

Acordar cansado mesmo depois de uma noite inteira de sono pode ser sinal de algo mais sério do que simplesmente dormir pouco. A apneia do sono é uma condição que interrompe a respiração diversas vezes durante a noite, prejudicando a oxigenação do corpo e roubando a qualidade do descanso.
Muito além do ronco alto e da sonolência diurna, a apneia tem impactos que preocupam os médicos, afinal, ela pode alterar o funcionamento do coração, elevar a pressão arterial e aumentar as chances de doenças mais sérias, como infarto e AVC.
Conversamos com a cardiologista Juliana Soares, integrante do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, que explicou como a apneia do sono interfere na saúde do coração e por que merece tanta atenção.
O que é apneia do sono
A cardiologista explica que a apneia do sono é uma condição em que a respiração é interrompida durante o sono, o que leva a uma queda na oxigenação do organismo. Essas pausas podem acontecer várias vezes por noite e prejudicam profundamente a qualidade do descanso.
“A fragmentação do sono também não permite com que os estágios mais profundos do sono sejam atingidos, levando a cansaço excessivo, fadiga e sonolência durante o dia”, conta a médica.
Segundo a especialista, existem três tipos principais de apneia do sono:
- Apneia obstrutiva do sono: a mais comum, causada pelo relaxamento dos músculos da garganta, que bloqueiam a passagem do ar.
- Apneia central do sono: mais rara, ocorre quando o cérebro não envia os sinais corretos para a respiração.
- Apneia mista do sono: mistura das duas situações.
“Embora possa atingir qualquer idade, ela é mais frequente em homens acima dos 40 anos, especialmente quando há obesidade”, diz a médica.
Como a apneia afeta o coração
A cada pausa na respiração, o corpo entende que está sob estresse. “Essas paradas na respiração promovem liberação dos hormônios do estresse, como a adrenalina e o cortisol, aumentando a pressão arterial e podendo levar a aumento da frequência cardíaca”, detalha a cardiologista.
Com o tempo e o ciclo se repetindo noite após noite, acontece uma sobrecarga contínua no coração. Isso aumenta o risco de pressão alta, arritmias, aterosclerose (formação de placas de gordura nas artérias), resistência à insulina, diabetes, infarto e AVC.
“Além disso, as pausas respiratórias demandam um esforço maior do coração podendo levar a ao enfraquecimento do músculo cardíaco e consequentemente a insuficiência cardíaca, condição na qual o coração não consegue bombear sangue suficiente para atender as necessidades do organismo”, detalha a especialista.
“Como esse processo se repete dezenas de vezes durante a noite em quem tem apneia do sono, isso promove uma sobrecarga contínua no coração”.
Esse processo ajuda a entender por que a apneia está tão ligada a doenças cardíacas graves.
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Sinais de alerta da apneia do sono
Como desconfiar, afinal, da apneia do sono? Muitas vezes, quem nota primeiro os sintomas é quem dorme ao lado. “Pausas na respiração durante a noite, ronco alto e frequente, sono agitado e despertar várias vezes são alguns dos sinais”, afirma a especialista.
Durante o dia, os sintomas também aparecem:
- Acordar cansado;
- Sonolência excessiva;
- Dor de cabeça ao acordar;
- Irritabilidade;
- Dificuldade de concentração.
Diagnóstico de apneia do sono: como fazer
O diagnóstico começa pela história clínica, associada a relatos de quem convive com a pessoa. O exame principal é a polissonografia, que avalia funções do organismo durante o sono, como atividade cerebral, respiração, nível de oxigênio, batimentos cardíacos e intensidade do ronco.
“Como na maior parte das condições de saúde, quanto mais precoce o tratamento, melhores os resultados”, reforça a cardiologista.
“Além do tratamento diminuir o risco de doenças cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida, ele também ajuda na prevenção de acidentes, visto que a sonolência excessiva durante o dia pode aumentar esse risco”.
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Tratamento de apneia do sono
Hoje, pode-se usar alguns aparelhos ou dispositivos para tratar a apneia do sono, como o CPAP, que é um aparelho que envia ar sob pressão através de uma máscara nasal e mantém as vias aéreas sempre abertas. Há também outros aparelhos que podem ajudar, mas somente um médico pode indicar para cada caso.
“Tratar a apneia ajuda a estabilizar a pressão arterial e a frequência cardíaca, diminuindo risco cardiovascular”, afirma a médica.
Outra forma de tratar apneia é diminuir os fatores de risco para ela. Um dos principais é a obesidade.
“O excesso de gordura na região do pescoço pode provocar obstrução das vias respiratórias durante o sono”, explica a especialista. Por isso, perder peso ajuda a controlar a apneia e a saúde cardiovascular.
Além disso, a médica recomenda:
- Praticar atividade física regularmente;
- Diminuir o consumo de álcool (que relaxa a garganta e piora a apneia);
- Parar de fumar, já que o cigarro inflama as vias aéreas.
Perguntas frequentes sobre apneia do sono e coração
1. Todo ronco é sinal de apneia?
Não. Porém, quando o ronco vem acompanhado de pausas respiratórias, merece investigação.
2. A apneia pode causar pressão alta?
Sim. As pausas respiratórias ativam hormônios do estresse que elevam a pressão arterial.
3. Quem tem apneia sempre precisa usar CPAP?
O CPAP é um dos tratamentos mais comuns, mas a escolha depende de uma avaliação médica. Em alguns casos, mudanças no estilo de vida já ajudam.
4. Apneia pode levar a insuficiência cardíaca?
Sim. O esforço extra exigido do coração ao longo do tempo pode enfraquecer o músculo cardíaco.
5. Existe cura para a apneia do sono?
Não há uma cura definitiva, mas o tratamento controla os sintomas e previne complicações.
6. Perder peso melhora a apneia do sono?
De forma geral, sim. O emagrecimento reduz a obstrução das vias aéreas e pode diminuir muito os episódios.
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