DOENÇAS & CONDIÇÕES
Apneia do sono: quando o ronco é sinal de algo mais sério
A apneia obstrutiva do sono afeta milhões de pessoas e pode causar muito mais do que cansaço. Entenda os sintomas, riscos e formas de tratamento

Dra. Juliana Soares
5min • 18 de out. de 2025

A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio do sono que faz com que a pessoa pause a respiração enquanto dorme
Roncar alto pode parecer apenas um incômodo para quem dorme ao lado, mas, em muitos casos, é sinal de um problema que vai muito além do barulho. A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio que interrompe a respiração diversas vezes durante a noite, fragmentando o descanso e sobrecarregando o coração e o cérebro.
Embora comum, a apneia ainda é pouco diagnosticada. Identificar os sintomas, buscar avaliação médica e iniciar o tratamento correto podem reduzir o risco de doenças graves e melhorar radicalmente a qualidade de vida.
O que é a apneia obstrutiva do sono
A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio caracterizado por pausas repetidas na respiração durante o sono, causadas pelo estreitamento ou colapso das vias aéreas superiores.
- Apneias (completas): o fluxo de ar cessa totalmente;
- Hipopneias (parciais): o fluxo de ar reduz significativamente.
Com a queda do oxigênio, o cérebro provoca microdespertares para retomar a respiração, resultando em sono fragmentado e não reparador.
Principais sintomas
- Ronco alto e frequente (geralmente notado pelo parceiro);
- Pausas respiratórias observadas durante o sono;
- Sonolência excessiva diurna, mesmo após “dormir muitas horas”;
- Fadiga, cefaleia matinal, irritabilidade e dificuldade de concentração;
- Engasgos noturnos, despertar com falta de ar, boca seca e/ou nictúria (urinar à noite).
Por que a apneia é preocupante
A apneia não causa apenas cansaço: ela está associada a desfechos clínicos relevantes, como:
- Doenças cardiovasculares: hipertensão, arritmias, insuficiência cardíaca, infarto;
- Acidente vascular cerebral (AVC);
- Diabetes e síndrome metabólica;
- Alterações de humor, memória e atenção;
- Maior risco de acidentes (especialmente ao volante) por sonolência.
Fatores de risco
Fatores anatômicos (estruturais)
- Retrognatia/micrognatia (queixo pequeno ou recuado);
- Hipertrofia de amígdalas ou adenóides;
- Língua volumosa, palato mole alongado;
- Pescoço grosso/excesso de tecidos na orofaringe.
Outros fatores
- Obesidade (principal causa modificável);
- Idade > 50 anos, sobretudo em homens;
- Dormir em decúbito dorsal (barriga para cima);
- Uso de álcool, cigarro e sedativos;
- Gravidez.
Doenças associadas
- Hipotireoidismo, acromegalia;
- Diabetes;
- Síndrome de Down, síndrome de Prader–Willi;
- Insuficiência cardíaca, fibrilação atrial;
- História de AVC.
Frequência na população
Estima-se que cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo tenham algum grau de apneia obstrutiva do sono. A prevalência é maior em homens e aumenta com a idade e com o ganho de peso.
Diagnóstico
Etapas da avaliação
- Histórico e sintomas: ronco, pausas respiratórias, sonolência, fadiga;
- Exame físico: IMC, circunferência do pescoço, anatomia de face/garganta;
- STOP-BANG: questionário de triagem que estima risco de AOS.
Exames confirmatórios
- Polissonografia em laboratório: padrão-ouro (respiração, oxigenação, batimentos, movimentos);
- Teste domiciliar do sono: opção com equipamento portátil em casos selecionados.
A gravidade é definida pelo Índice de Apneia-Hipopneia (IAH) (eventos/hora): leve 5–15; moderada 15–30; grave > 30.
Tratamento da apneia obstrutiva do sono
Objetiva melhorar a qualidade do sono e reduzir riscos cardiovasculares e metabólicos.
Mudanças no estilo de vida
- Perda de peso (quando indicado);
- Dormir de lado (terapia posicional);
- Evitar álcool, tabaco e sedativos;
- Higiene do sono: horários regulares, ambiente escuro e silencioso.
Terapias principais
- CPAP: pressão positiva contínua por máscara; tratamento mais eficaz para casos moderados/graves;
- Aparelhos orais de avanço mandibular: úteis em casos leves a moderados e em intolerância ao CPAP;
- Fonoterapia/terapia miofuncional orofacial: exercícios para musculatura da via aérea;
- Cirurgias (casos selecionados): correção de alterações anatômicas (ex.: amigdalectomia, avanço maxilomandibular) ou neuroestimulador do nervo hipoglosso.
Por que tratar é importante
- Reduz risco de infarto e AVC;
- Diminui acidentes por sonolência e melhora desempenho;
- Atenua déficits cognitivos, depressão e irritabilidade;
- Auxilia no controle da pressão arterial e da resistência à insulina;
- Melhora a qualidade de vida, energia e disposição.
Leia também: Apneia do sono e a saúde do coração: uma conexão perigosa
Perguntas frequentes sobre apneia obstrutiva do sono
1. Roncar sempre significa ter apneia?
Não. O ronco pode ser apenas ruído respiratório. Porém, se houver pausas na respiração ou sonolência excessiva, é essencial investigar.
2. A apneia é perigosa?
Sim. Está associada a doenças cardiovasculares, AVC e a maior risco de acidentes.
3. Existe cura para a apneia?
Casos leves podem melhorar com perda de peso e medidas comportamentais. Nos moderados/graves, CPAP e outras terapias controlam a doença de forma eficaz.
4. CPAP é desconfortável?
Há estranhamento inicial, mas com ajuste de máscara e acomodação gradual, a maioria se adapta bem.
5. Crianças também podem ter apneia?
Sim. Em pediatria, a causa mais comum é a hipertrofia de amígdalas/adenóides; o tratamento precoce previne impactos no crescimento e aprendizado.
6. Quando devo procurar um especialista?
Se você ronca alto, tem sono diurno excessivo ou alguém notou pausas respiratórias durante seu sono, procure um otorrinolaringologista ou médico de medicina do sono.
Confira: Higiene do sono: guia prático para dormir melhor e cuidar da saúde