SAÚDE MENTAL & EMOCIONAL
Anorexia nervosa: entenda o papel da nutrição na recuperação e na prevenção de recaídas
Conheça as estratégias de reintrodução alimentar, os nutrientes essenciais e a importância do suporte familiar no tratamento

Fernanda Pacheco
5min • 7 de out. de 2025

A anorexia nervosa é um dos transtornos alimentares mais graves e complexos, afetando não apenas a relação do paciente com a comida, mas também a sua saúde física, emocional e social. A perda significativa de peso, o medo intenso de engordar e a distorção da imagem corporal estão entre os sinais mais marcantes.
Apesar de envolver diferentes áreas da saúde, como psiquiatria, psicologia e endocrinologia, a nutrição tem um papel central na recuperação. Segundo a nutricionista Fernanda Pacheco, a reconstrução da alimentação, feita de forma gradual e cuidadosa, é fundamental para restabelecer o equilíbrio, corrigir deficiências nutricionais e devolver qualidade de vida ao paciente com anorexia.
Vamos entender nesta reportagem como é feito o tratamento da anorexia e como é a recuperação completa do quadro com a ajuda da nutrição.
O que é anorexia nervosa
A anorexia vai muito além de “comer pouco” ou “fazer dieta restritiva”. Trata-se de um transtorno alimentar reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e marcado por três elementos principais:
- Restrição alimentar severa;
- Medo intenso de ganhar peso;
- Distorção da autoimagem.
“A pessoa pode se enxergar acima do peso, mesmo estando muito magra, e desenvolve comportamentos que levam a perdas importantes de nutrientes e energia, afetando todo o organismo”, enfatiza a nutricionista.
Complicações da anorexia nervosa
A anorexia impacta praticamente todos os sistemas do corpo. A falta de nutrientes compromete músculos, ossos, hormônios e até funções básicas, como a imunidade e o ciclo menstrual.
- Desnutrição e perda de massa muscular;
- Fraqueza óssea e risco de osteopenia/osteoporose;
- Alterações hormonais, incluindo infertilidade temporária;
- Problemas gastrointestinais, como constipação;
- Queda da imunidade e maior suscetibilidade a infecções.
Segundo Fernanda, o papel do atendimento de um nutricionista é corrigir as deficiências nutricionais. “A nutrição adequada ajuda a reverter a carência de vitaminas e minerais, restabelece o equilíbrio energético e contribui para a melhora de funções vitais, como o ciclo menstrual, a imunidade e a saúde óssea”.
Porém, vale reforçar que o tratamento é multidisciplinar, sendo necessária também a consulta com psicólogos e médicos.
Reintrodução alimentar: um processo gradual no tratamento da anorexia
Um dos maiores desafios do tratamento nutricional é reintroduzir a alimentação de forma segura. Após longos períodos de restrição, o corpo não está preparado para receber grandes quantidades de comida de uma só vez.
“A reintrodução é feita de forma gradual e planejada, respeitando a tolerância do paciente e evitando complicações metabólicas, como a síndrome da realimentação”, fala Fernanda.
A síndrome da realimentação é uma complicação que pode surgir quando uma pessoa desnutrida retoma a alimentação de forma rápida e descontrolada. Nesses casos, a entrada súbita de nutrientes faz o corpo liberar insulina em excesso, o que pode reduzir drasticamente minerais importantes no sangue. Por isso, a reintrodução alimentar em pacientes com anorexia ou desnutrição deve ser sempre gradual e acompanhada por profissionais de saúde.
O plano geralmente começa com pequenas porções de alimentos de fácil digestão, partindo do que o paciente já consegue comer. Aos poucos, a variedade e a quantidade vão aumentando até atingir um padrão alimentar balanceado.
“Os nutrientes mais importantes são os que corrigem déficits graves e sustentam as funções vitais, como proteínas, carboidratos, além de vitaminas do complexo B, cálcio, ferro, zinco e eletrólitos, como potássio e magnésio”, completa a nutricionista.
O medo de ganhar peso: um dos maiores desafios
O processo de tratamento da anorexia vai além do físico. O medo intenso de engordar acompanha quase todos os pacientes e exige muita sensibilidade do nutricionista.
“O nutricionista busca mostrar que recuperar o peso não significa perder o controle sobre o próprio corpo, mas sim conquistar de volta saúde, energia e qualidade de vida”, indica Fernanda.
Ela explica que o acompanhamento é feito passo a passo, com metas realistas e alcançáveis, sempre explicando ao paciente que cada mudança é planejada de forma segura, o que ajuda a reduzir a sensação de ameaça.
Entre as estratégias mais usadas:
- Incluir calorias extras em alimentos já aceitos pelo paciente;
- Priorizar alimentos mais calóricos em pequenas porções;
- Ajustar preparações de forma individualizada.
Além disso, a nutricionista acrescenta que o aumento de peso deve ser progressivo e planejado, evitando riscos metabólicos e diminuindo a ansiedade em torno da recuperação da anorexia nervosa.
“O ganho de peso não deve ser brusco, mas progressivo, geralmente de 0,5 a 1 kg por semana, o que diminui riscos metabólicos e a ansiedade em torno da recuperação”, detalha Fernanda.
Acompanhamento contínuo e suporte familiar: pilares contra recaídas
A anorexia é um transtorno marcado por recaídas frequentes, o que torna essencial um acompanhamento nutricional constante.
“O foco é ajudar o paciente a estruturar uma rotina alimentar regular e equilibrada, evitando novos ciclos de restrição”, fala Fernanda. Nesse processo, o nutricionista atua identificando gatilhos, corrigindo crenças distorcidas sobre comida e observando sinais precoces de recaída.
O suporte familiar também se torna indispensável, já que os maiores desafios acontecem em ambiente familiar, especialmente nos momentos de refeição.
“O processo de recuperação não acontece apenas no consultório, mas principalmente no dia a dia do paciente. Muitas vezes, os momentos de comer são carregados de tensão e resistência, e a presença de familiares preparados para lidar com essas situações torna o ambiente mais acolhedor e menos conflituoso”.
Ou seja, o apoio familiar não é apenas um complemento, mas um elemento ativo no tratamento, capaz de sustentar o paciente nos momentos de fragilidade e aumentar significativamente as chances de recuperação da anorexia nervosa.
Leia também: Qual o papel do nutricionista no tratamento de transtornos alimentares?
Perguntas e respostas sobre anorexia nervosa
1. O que é a anorexia nervosa?
Anorexia nervosa é um transtorno alimentar grave caracterizado por restrição severa de alimentos, medo intenso de ganhar peso e distorção da autoimagem. A pessoa pode se enxergar acima do peso mesmo estando muito magra.
2. Quais complicações a anorexia pode causar?
A doença afeta praticamente todo o organismo. Entre as complicações estão desnutrição, perda muscular e óssea, alterações hormonais, problemas gastrointestinais e queda da imunidade.
3. Como funciona a reintrodução alimentar?
Ela deve ser gradual e planejada, com pequenas porções e alimentos de fácil digestão. Esse cuidado evita complicações como a síndrome da realimentação e ajuda a corrigir déficits de nutrientes essenciais.
4. Quais nutrientes são prioritários no início do tratamento?
Proteínas, carboidratos, vitaminas do complexo B, cálcio, ferro, zinco, potássio e magnésio, fundamentais para funções vitais como saúde óssea, imunidade e equilíbrio energético.
5. Por que o medo de ganhar peso é um desafio na recuperação?
Porque gera resistência ao tratamento. O nutricionista precisa mostrar que o ganho de peso significa recuperar saúde e qualidade de vida, e não perder o controle sobre o corpo.
6. Quanto peso se recomenda ganhar por semana?
O aumento deve ser gradual, entre 0,5 e 1 kg por semana, para reduzir riscos metabólicos e diminuir a ansiedade do paciente.
7. Como o acompanhamento nutricional ajuda a evitar recaídas?
Ele cria uma rotina alimentar equilibrada, identifica gatilhos emocionais e observa sinais precoces de recaída, permitindo intervenções rápidas.
8. Qual é o papel da família no tratamento?
Apoiar o paciente nas refeições, reduzir a tensão à mesa, incentivar a adesão ao plano alimentar e reconhecer sinais de recaída. Esse suporte aumenta significativamente as chances de recuperação.
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