DOENÇAS & CONDIÇÕES
Anemia falciforme: conheça a doença genética que afeta o formato das células do sangue
Alterações na hemoglobina fazem com que os glóbulos vermelhos percam a forma arredondada e causem dor, anemia e outras complicações graves

Dra. Juliana Soares
5min • 4 de nov. de 2025

A anemia falciforme é causada por uma alteração genética no gene responsável pela produção da hemoglobina, proteína que transporta o oxigênio no sangue | Foto: Freepik
A anemia falciforme é uma doença genética que altera o formato dos glóbulos vermelhos, as células responsáveis por transportar oxigênio pelo corpo. Em vez de redondas e flexíveis, elas assumem o formato de uma foice ou meia-lua, tornando-se rígidas e frágeis.
Essa deformação faz com que as células se quebrem mais facilmente e bloqueiem pequenos vasos sanguíneos, o que pode causar crises dolorosas, falta de oxigênio nos tecidos e danos a órgãos. Embora seja uma doença crônica, o diagnóstico precoce e o acompanhamento médico adequado permitem controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
O que causa a anemia falciforme
A doença é causada por uma alteração genética no gene responsável pela produção da hemoglobina, proteína que transporta o oxigênio no sangue. Essa mutação faz surgir uma hemoglobina anormal, chamada HbS.
Quando há pouco oxigênio, como durante febre, desidratação ou esforço físico, a HbS tende a se agrupar dentro da célula, deformando o glóbulo vermelho e transformando-o em uma foice.
Essas células tornam-se:
- Mais frágeis, quebrando-se facilmente e causando anemia;
- Menos flexíveis, podendo se acumular e bloquear a circulação do sangue.
Para desenvolver a doença, a pessoa precisa herdar duas cópias do gene alterado (uma do pai e outra da mãe). Quem herda apenas uma cópia tem o traço falciforme — não apresenta sintomas, mas pode transmitir o gene aos filhos.
Sintomas mais comuns
Os sintomas da anemia falciforme podem variar de leves a graves, mas geralmente incluem:
- Crises de dor: intensas e súbitas, que podem afetar ossos, articulações, abdômen ou tórax;
- Anemia crônica: causada pela destruição precoce dos glóbulos vermelhos, resultando em cansaço, fraqueza e falta de ar;
- Infecções recorrentes: devido à menor defesa do organismo;
- Acidente vascular cerebral (AVC): pode ocorrer ainda na infância;
- Danos em órgãos: rins, fígado, olhos, ossos e coração podem ser afetados com o tempo.
As crises dolorosas, chamadas crises vaso-oclusivas, são uma das manifestações mais marcantes e podem durar horas ou dias.
Complicações da anemia falciforme
A doença pode causar complicações agudas (súbitas) e crônicas (progressivas ao longo do tempo).
Complicações agudas
- Crise vaso-oclusiva: dor intensa por bloqueio dos vasos sanguíneos;
- Síndrome torácica aguda: febre, dor no peito e falta de ar — pode ser fatal;
- AVC: ocorre pela obstrução de vasos cerebrais, às vezes ainda na infância;
- Sequestro esplênico ou hepático: acúmulo de sangue no baço ou fígado, com queda brusca da hemoglobina;
- Crise aplástica: interrupção temporária da produção de glóbulos vermelhos, geralmente após infecção viral;
- Priapismo: ereção prolongada e dolorosa em homens, que pode causar impotência se não tratada rapidamente.
Complicações crônicas
- Anemia persistente;
- Hipertensão pulmonar;
- Doença renal;
- Problemas oculares (retinopatia);
- Necrose óssea;
- Úlceras nas pernas.
Essas complicações exigem acompanhamento contínuo e tratamento específico.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por exames de sangue e, em alguns casos, testes genéticos. O objetivo é identificar a presença da hemoglobina falciforme (HbS).
Principais exames utilizados:
- Teste do pezinho: detecta a doença já no recém-nascido;
- Hemograma completo: avalia níveis de hemoglobina e células sanguíneas;
- Eletroforese de hemoglobina: confirma e quantifica os tipos de hemoglobina (HbA, HbS, HbF);
- Cromatografia líquida de alta eficiência: identifica com precisão as diferentes hemoglobinas;
- Teste genético: confirma a mutação e diferencia traço de doença.
Exames complementares, como ultrassom, ressonância magnética ou doppler de vasos cerebrais, podem ser solicitados para investigar complicações e risco de AVC.
Tratamento
O tratamento é multidisciplinar e individualizado, com o objetivo de controlar sintomas, prevenir crises e reduzir complicações.
1. Cuidados de suporte
- Controle da dor: uso de analgésicos, anti-inflamatórios e, em casos graves, medicamentos opioides;
- Hidratação constante: reduz a chance de crises, podendo ser feita por via oral ou intravenosa;
- Transfusões de sangue: indicadas em casos de anemia grave, AVC ou síndrome torácica aguda.
2. Terapias modificadoras da doença
- Medicamentos que estimulam a hemoglobina fetal (HbF): reduzem crises e internações;
- Transplante de medula óssea: indicado em casos graves com doador compatível, principalmente em crianças.
3. Prevenção de infecções e complicações
- Vacinas adicionais, como pneumocócica e meningocócica;
- Antibióticos preventivos, como penicilina em crianças;
- Acompanhamento em centros especializados.
4. Cuidados gerais
- Evitar desidratação, frio intenso e esforço físico excessivo;
- Tratar infecções rapidamente;
- Manter acompanhamento psicológico e social.
O que esperar
Com o diagnóstico precoce, tratamento contínuo e cuidados de prevenção, muitas pessoas com anemia falciforme conseguem levar uma vida ativa e produtiva. A doença exige atenção ao longo da vida, mas o acompanhamento médico adequado reduz significativamente o risco de crises e complicações graves.
Leia mais: O que você precisa saber sobre o seu tipo de sangue
Perguntas frequentes sobre anemia falciforme
1. O que é anemia falciforme?
É uma doença genética em que os glóbulos vermelhos têm formato de foice, dificultando a circulação e o transporte de oxigênio.
2. A anemia falciforme é contagiosa?
Não. Ela é hereditária, passada de pais para filhos por meio dos genes.
3. Quais são os principais sintomas?
Crises de dor, cansaço, infecções frequentes, anemia e, em casos graves, lesões em órgãos.
4. O que causa as crises de dor?
O bloqueio dos vasos sanguíneos pelas células deformadas impede a chegada de oxigênio aos tecidos, gerando dor intensa.
5. Existe cura para a anemia falciforme?
O transplante de medula óssea pode curar alguns casos, mas só é indicado em situações graves e com doador compatível.
6. Quem tem o traço falciforme sente sintomas?
Geralmente, não. Mas pode transmitir o gene para os filhos.
7. Como é feito o diagnóstico?
Por exames de sangue, como o teste do pezinho e a eletroforese de hemoglobina.
8. Qual o papel da hidratação no tratamento?
A hidratação ajuda a manter o sangue mais fluido, facilitando a circulação das células e evitando que elas se acumulem nos vasos.
Com isso, diminui-se o risco de crises de dor, que acontecem quando o sangue não consegue passar direito e o corpo fica com falta de oxigênio em algumas regiões.
Confira: Anemia carencial: o que acontece quando faltam nutrientes no sangue

