DOENÇAS & CONDIÇÕES
Quando a alergia vira emergência: entenda a anafilaxia
Essa reação alérgica mais grave pode surgir em minutos e colocar a vida em risco; saiba reconhecer os sinais e como agir

Dra. Juliana Soares
5min • 28 de out. de 2025

A anafilaxia pode começar em poucos minutos após o contato com o agente causador, e quanto mais rápida a reação, maior o risco de gravidade
Coceira, inchaço, falta de ar e tontura podem parecer sintomas isolados, mas juntos podem indicar uma das emergências médicas mais graves: a anafilaxia. Essa reação alérgica intensa se manifesta rapidamente, pode comprometer vários órgãos ao mesmo tempo e exige atendimento imediato.
A anafilaxia ocorre quando o sistema imunológico reage de forma exagerada a substâncias normalmente inofensivas — como alimentos, medicamentos ou picadas de insetos. Reconhecer os sinais e agir rápido pode salvar vidas.
O que acontece no corpo durante uma anafilaxia
Durante a crise, o corpo libera substâncias químicas (como a histamina) que dilatam os vasos e aumentam sua permeabilidade. Isso causa inchaço, vermelhidão, queda de pressão, falta de ar e urticária.
A anafilaxia pode surgir em minutos após o contato com o agente causador — e quanto mais rápida a reação, maior o risco. Mesmo após o tratamento, os sintomas podem voltar horas depois (reação bifásica).
Causas mais comuns de anafilaxia
Diversas substâncias podem causar crises. As mais frequentes incluem:
Alimentos
Amendoim, castanhas, nozes, peixes, camarão, frutos do mar, leite, ovos, soja, trigo e gergelim. Em casos graves, até o cheiro ou pequenas partículas podem provocar reação.
Picadas de insetos
Abelhas, vespas e formigas são as principais causas.
Medicamentos
Antibióticos (penicilina, cefalosporinas), anti-inflamatórios (aspirina, ibuprofeno), anestésicos e relaxantes musculares usados em cirurgias.
Látex
Presente em luvas, balões, preservativos e materiais hospitalares.
Contrastes usados em exames
Produtos com iodo podem causar reação em pessoas sensíveis.
Pólen
Mais raro, mas pode causar anafilaxia em indivíduos com alergia severa.
Sintomas: como reconhecer
Os sintomas aparecem rapidamente — geralmente em minutos — e afetam várias partes do corpo simultaneamente.
Pele e mucosas
- Coceira e vermelhidão;
- Urticária (vergões avermelhados);
- Inchaço em lábios, olhos, língua ou garganta (angioedema).
Sistema respiratório
- Nariz entupido, espirros, tosse;
- Rouquidão e sensação de nó na garganta;
- Falta de ar, chiado, aperto no peito e dificuldade para respirar.
Coração e circulação
- Queda de pressão;
- Tontura e fraqueza;
- Batimentos acelerados ou irregulares;
- Desmaio.
Trato digestivo
- Dor abdominal e cólicas;
- Náuseas, vômitos ou diarreia.
Outros sinais
- Visão turva;
- Confusão mental;
- Sensação de desmaio iminente.
Nos casos mais graves, ocorre o choque anafilático, com queda brusca da pressão e falha na oxigenação dos órgãos — situação potencialmente fatal em minutos.
Diagnóstico da anafilaxia
O diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas e no histórico de exposição a um alérgeno. Exames como dosagem de triptase podem confirmar o quadro posteriormente, mas o tratamento deve começar imediatamente, sem esperar resultados laboratoriais.
Tratamento
A epinefrina (adrenalina) é o tratamento de primeira escolha e deve ser aplicada o quanto antes, preferencialmente na coxa, por injeção intramuscular.
A adrenalina:
- Relaxará os músculos das vias aéreas;
- Aumentará a pressão arterial;
- Reduzirá o inchaço e os sintomas da reação.
Após a aplicação, outros medicamentos podem ser usados para controlar coceira, urticária e prevenir recaídas. O paciente deve permanecer em observação por pelo menos 4 horas, pois os sintomas podem retornar. Casos graves exigem internação em UTI.
Em alguns países, há o autoaplicador de adrenalina (EpiPen®) para uso emergencial. No Brasil, ele ainda não está disponível.
Confira: Tem alergia alimentar? Veja como diagnosticar e tratar
Complicações
Quando tratada rapidamente, a recuperação é completa. Porém, o atraso na aplicação da adrenalina pode causar:
- Choque anafilático;
- Falta de oxigenação cerebral;
- Parada cardíaca;
- Morte súbita.
Prevenção e cuidados
- Identificar e evitar totalmente o agente causador;
- Informar familiares e amigos sobre a alergia e os procedimentos de emergência;
- Carregar identificação médica (pulseira/cartão);
- Consultar um alergologista para investigação e possível imunoterapia (dessensibilização).
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Perguntas frequentes sobre anafilaxia
1. O que é anafilaxia?
É uma reação alérgica grave e rápida, que pode afetar vários órgãos e colocar a vida em risco.
2. Quais são os primeiros sinais?
Coceira, inchaço no rosto ou garganta, falta de ar, tontura e queda de pressão.
3. Qual o tratamento imediato?
A aplicação de adrenalina intramuscular (na coxa). É uma emergência médica e deve ser feita o quanto antes.
4. A anafilaxia pode acontecer novamente?
Sim. Mesmo após o tratamento, os sintomas podem reaparecer horas depois (reação bifásica).
5. Quem tem alergia grave deve fazer o quê?
Consultar um alergologista, identificar o agente causador e evitar totalmente o contato.
6. A anafilaxia pode matar?
Sim. Sem tratamento imediato, pode evoluir para choque anafilático e parada cardíaca.
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