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Alergia ocupacional tem cura? Conheça os sintomas e quando procurar um médico

A maior parte dos casos ocorre em quem trabalha com produtos voláteis, limpeza, alimentos, animais ou poeiras químicas.

Dra. Brianna Nicoletti

Dra. Brianna Nicoletti

5min • 5 de dez. de 2025

Profissional de saúde usando máscara, touca e EPI com expressão de cansaço, representando risco de alergia ocupacional em ambiente hospitalar.

A relação entre ambiente profissional e alergias é muito comum, porque vários setores expõem trabalhadores a substâncias que irritam pele, olhos e vias respiratórias.

Você já ouviu falar em alergia ocupacional? Representando cerca de 15% das condições desencadeadas pelo trabalho, ela surge quando o organismo reage de forma exagerada a partículas, substâncias ou agentes presentes no ambiente profissional, provocando sintomas respiratórios, na pele ou oculares que podem comprometer o bem-estar e a qualidade de vida.

Os sintomas podem surgir de forma imediata ou tardia, dependendo da intensidade da exposição, da sensibilidade de cada pessoa e do tipo de agente envolvido — o que pode dificultar o reconhecimento do quadro no início.

Pensando nisso, conversamos com uma especialista e apontamos, a seguir, as principais profissões de risco e quando você deve procurar um médico. Confira!

Quais trabalhos mais associados a alergia ocupacional?

A relação entre o ambiente profissional e alergias é bastante comum porque vários setores expõem trabalhadores a substâncias que irritam pele, olhos e vias respiratórias. De acordo com a alergista e imunologista Brianna Nicoletti, a divisão dos agentes considera duas categorias:

  • Alto peso molecular, formada por proteínas como alérgenos de animais, farinha, látex e enzimas;
  • Baixo peso molecular, formada por produtos químicos como isocianatos, anidridos ácidos, persulfatos, acrilatos e resinas epóxi.

Entre os principais ramos ocupacionais com maior risco e tipos de alergias envolvidos, a alergista destaca:

  • Área da saúde costuma apresentar rinite e asma relacionadas ao látex natural, dermatite de contato por luvas e irritação causada por desinfetantes, principalmente compostos quaternários de amônio. A odontologia também apresenta casos de sensibilização a acrilatos;
  • Manipulação de animais de laboratório, em biotérios e clínicas veterinárias, pode causar rinite e asma por alérgenos de roedores, gatos e outros animais, principalmente substâncias presentes em urina, saliva e caspa;
  • Panificação e indústrias de alimentos apresentam rinite e asma causadas por farinhas, enzimas como alfa-amilase e ácaros de armazenamento, além de urticária de contato durante o manuseio de frutos do mar;
  • Atividade de cabeleireiros envolve risco de asma e rinite provocadas por persulfatos presentes em descolorantes, fragrâncias e outros produtos, além de dermatite de contato por tinturas contendo parafenilenodiamina;
  • Pintura automotiva e industrial, assim como a aplicação de espumas, costuma desencadear asma por isocianatos como MDI e TDI;
  • Marcenaria e a construção civil podem causar rinite, asma e rinossinusite devido a poeiras de madeira como cedro vermelho, resinas epóxi e formaldeído;
  • Soldagem e a eletrônica expõem trabalhadores a fumaça metálica e vapores irritantes, além de partículas de colofônia usadas em fluxos de solda, capazes de provocar sensibilização respiratória;
  • Agricultura e o trabalho em silos estão associados a poeiras orgânicas de grãos, fungos e endotoxinas, que levam a rinite, asma e pneumonite por hipersensibilidade, também chamada de alveolite alérgica extrínseca.

Quais os sintomas da alergia ocupacional?

Os sintomas da alergia ocupacional variam conforme a exposição e podem atingir nariz, olhos, pele e pulmões. Os mais comuns incluem:

  • Congestão nasal, espirros e coriza;
  • Coceira nos olhos, vermelhidão e lacrimejamento;
  • Tosse persistente, sensação de aperto no peito e dificuldade para respirar;
  • Chiado no peito, típico de asma ocupacional;
  • Irritação na pele, com vermelhidão, coceira ou descamação;
  • Urticária de contato após tocar na substância que provoca a reação;
  • Piora dos sintomas durante o expediente, com melhora parcial nos dias de descanso.

Quanto os sintomas surgem?

Os sintomas podem surgir logo depois da exposição ao alérgeno, mas Brianna explica que, na maioria dos casos, existe um intervalo de semanas a anos até que o organismo fique sensibilizado e comece a demonstrar sinais claros da alergia.

  • Alergia mediada por IgE, ligada a proteínas de alto peso molecular, costuma aparecer depois de um período longo de exposição, que pode durar meses ou anos. Os sintomas mais comuns incluem rinite, coceira nos olhos, urticária de contato e asma, normalmente piorando nos dias de trabalho e melhorando quando o trabalhador se afasta do ambiente;
  • Sensibilização por produtos de baixo peso molecular, como isocianatos, também costuma surgir após um período de latência. A manifestação mais frequente é uma asma de início lento, marcada por irritação constante das vias aéreas e dificuldade respiratória que persiste mesmo fora do trabalho;
  • Asma induzida por irritantes (RADS) aparece de forma súbita, sem período de latência, após um único episódio de exposição intensa a uma substância irritante. Depois da crise inicial, alguns sintomas podem permanecer por muito tempo.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da alergia ocupacional é feito a partir das informações clínicas, detalhes do ambiente de trabalho e exames que ajudam a mostrar se os sintomas realmente estão ligados à rotina profissional.

O especialista precisa entender sobre as tarefas diárias, substâncias usadas no dia a dia, tempo de exposição, uso de proteção individual e comparação entre sintomas nos dias de expediente e nos períodos de folga. Além disso, ele avalia condições pré-existentes, como rinite, dermatite ou refluxo, porque elas podem interferir no quadro.

De acordo com Brianna, podem ser feitos os seguintes exames:

  • Exame físico e testes de função respiratória, como espirometria com broncodilatador. Quando o resultado é normal, podem ser feitos testes de hiper-responsividade, como metacolina ou manitol;
  • Monitorização do pico de fluxo expiratório (PEF) por duas a três semanas, registrando valores em dias de trabalho e em dias de descanso. Esse método é considerado o melhor exame de triagem para suspeita de asma ocupacional no dia a dia;
  • Avaliação de inflamação respiratória com medidas como FeNO (óxido nítrico exalado) e indução de escarro, quando disponível;
  • Testes alérgicos, incluindo testes cutâneos ou IgE específica para alérgenos do ambiente profissional, como farinha, látex, enzimas ou epitélios de animais;
  • Avaliação de rinite ocupacional com rinoscopia e, quando necessário, citologia nasal ou prova de provocação nasal específica em centros especializados;
  • Prova de inalação específica, considerada o padrão ouro em centros de referência, indicada quando a suspeita de asma ocupacional permanece mesmo após outros testes.

“O afastamento temporário do agente suspeito (dias a poucas semanas) pode auxiliar no diagnóstico: melhora dos sintomas e da função respiratória fora do ambiente de trabalho é um forte indício de relação causal”, explica a alergista.

Tratamento de alergia ocupacional

Depois de identificar o que está causando a alergia, algumas medidas podem ser adotadas para controlar os sintomas do dia a dia. Em casos de rinite, podem ser usados corticoides nasais e anti-histamínicos para aliviar nariz entupido, coceira e espirros, sempre com orientação médica.

A situação muda um pouco quando há asma, porque o tratamento costuma incluir corticoide inalatório para manter o pulmão controlado e evitar crises durante o expediente. A avaliação para imunoterapia pode ser considerada em alguns casos, principalmente quando é claro o alérgeno responsável pelo quadro.

Também podem ser feitas adaptações no local de trabalho para diminuir as crises alérgicas, como aponta Brianna:

Eliminação ou substituição do agente

  • Retirar o agente que causa alergia sempre que possível, é a principal medida de tratamento e prevenção de crises;
  • Substituir luvas de látex com pó por modelos sem pó e com baixo teor de proteínas;
  • Trocar substâncias sensibilizantes, como isocianatos e persulfatos, por alternativas menos irritantes.

Controles de engenharia no ambiente de trabalho

  • Usar processos fechados ou com barreiras físicas;
  • Instalar exaustores no ponto onde a substância é liberada (exaustão local);
  • Garantir ventilação adequada;
  • Reduzir a formação de aerossóis;
  • Evitar picos de exposição;
  • Realizar limpeza úmida ou com filtro HEPA para diminuir partículas no ar.

Controles administrativos e organização das atividades

  • Treinar equipes sobre riscos e prevenção;
  • Utilizar sinalização clara em áreas de risco;
  • Revezar tarefas para diminuir tempo direto de exposição;
  • Limitar permanência em áreas de maior risco;
  • Criar protocolos de emergência;
  • Incentivar a notificação rápida de sintomas pelos trabalhadores.

Equipamentos de proteção individual (EPI)

  • Usar respiradores adequados, como PFF2/N95 ou modelos superiores;
  • Utilizar luvas apropriadas, avental e barreiras de proteção;
  • Proteger os olhos quando houver risco de respingos ou partículas;
  • Lembrar que o EPI é complementar e não substitui melhorias no ambiente de trabalho.

Quando ir ao médico?

A busca por atendimento médico deve acontecer quando surgem sinais de alerta que indicam que o problema respiratório pode estar relacionado ao ambiente de trabalho, como:

  • Os sintomas de rinite ou asma pioram durante o expediente ou melhoram nos fins de semana e férias;
  • Há falta de ar, chiado no peito, tosse persistente ou sensação de aperto no tórax;
  • O uso de broncodilatador de alívio se torna frequente;
  • Quando acorda de noite por dificuldade respiratória;
  • Queda na função pulmonar, medida por exames como espirometria ou PEF seriado;
  • O quadro não melhora mesmo após evitar gatilhos conhecidos e seguir o tratamento indicado;
  • Quando há suspeita de exposição a substâncias como farinha, látex, pelos de animais, poeiras químicas, isocianatos ou produtos de limpeza.

A avaliação precoce com alergologista ou pneumologista do trabalho diminui o risco de que o quadro se agrave, ajudando a melhorar a qualidade de vida do trabalhador.

Afinal, quando devo considerar mudar de profissão?

Mudar a profissão ou função pode ser uma decisão difícil de considerar, já que envolve a rotina, estabilidade e anos de dedicação a uma área específica. Ainda assim, existem momentos em que o corpo sinaliza que o ambiente de trabalho realmente deixou de ser seguro, como:

  • Confirmação de asma causada por um sensibilizante específico, como farinha, látex, isocianatos, pelos de animais ou produtos químicos, mesmo após tentativas de reduzir ou evitar a exposição;
  • Impossibilidade de controle adequado do ambiente, seja por falhas de ventilação, falta de barreiras físicas, ausência de exaustão ou inviabilidade de realocação para outra função menos arriscada;
  • Permanência de sintomas intensos, apesar do tratamento correto e da redução de contatos, mostrando que o organismo continua reagindo ao ambiente;
  • Afastamentos frequentes e o impacto na capacidade funcional, deixando claro que trabalhar naquele local já está prejudicando a saúde de forma repetida;
  • Presença de RADS (síndrome de disfunção reativa das vias aéreas) com tosse, chiado e falta de ar persistentes mesmo após diminuição da exposição.

Em situações como essas, conversar com um pneumologista ou alergologista do trabalho ajuda a avaliar os riscos e a planejar uma mudança que preserve a saúde no longo prazo.

Confira: Alergia a níquel de bijuterias: por que acontece, como tratar e se tem cura

Perguntas frequentes

O que diferencia a rinite ocupacional de rinite alérgica comum?

A rinite ocupacional surge quando o gatilho alérgico está presente no ambiente de trabalho, enquanto a rinite alérgica comum costuma ser provocada por fatores domésticos, sazonais ou ambientais gerais. A principal diferença está no padrão temporal: a pessoa melhora nos fins de semana e piora durante o expediente.

O diagnóstico é feito por meio da análise da rotina, testes alérgicos e, muitas vezes, pela comparação direta entre dias de trabalho e períodos de folga. A persistência da exposição aos alérgenos pode intensificar crises e aumentar o risco de progressão para bronquite ou asma.

Como a asma ocupacional se desenvolve?

A asma ocupacional se instala depois de repetidas exposições a substâncias inaladas no local de trabalho, que ativam o sistema imunológico e provocam inflamação dos brônquios. A pessoa pode não ter histórico respiratório prévio e, mesmo assim, desenvolver chiado, tosse e falta de ar ao longo de meses ou anos de contato profissional.

A evolução costuma ocorrer em duas etapas: primeiro vem a fase de sensibilização, quando quase não há sintomas; depois surge a fase de desencadeamento, quando o organismo começa a reagir até a pequenas quantidades do agente. Quanto mais tempo a exposição continua, mais grave e difícil de controlar o quadro se torna.

O que é RADS e como se diferencia da asma ocupacional comum?

A síndrome de disfunção reativa das vias aéreas (RADS) surge após uma única exposição intensa a irritantes, como fumaça química, vapores tóxicos ou derramamentos acidentais. A pessoa desenvolve sintomas imediatos e persistentes, mesmo sem histórico alérgico prévio.

A asma ocupacional comum, por outro lado, ocorre após meses ou anos de exposição repetida. Casos de RADS costumam causar sintomas intensos e precisam de acompanhamento rigoroso.

Tenho alergia ocupacional, preciso me afastar do trabalho?

A alergia ocupacional não exige afastamento imediato em todos os casos. A maioria das situações melhora com ajustes ambientais, uso correto de EPIs, trocas de produtos, ventilação adequada e reorganização de tarefas.

A decisão de afastar depende da gravidade dos sintomas, da identificação do agente e da capacidade da empresa em reduzir a exposição. Uma avaliação médica orienta quando o afastamento é necessário, especialmente em situações de asma causada por sensibilizantes potentes ou quando não existem alternativas seguras de realocação.

Como aliviar a congestão nasal causada pela alergia ocupacional?

A congestão nasal pode ser aliviada com lavagem nasal diária usando solução salina, porque a limpeza remove partículas irritantes que ficam presas na mucosa após a exposição ao ambiente de trabalho. A prática reduz a inflamação, melhora a passagem de ar e diminui a necessidade de medicamentos.

Em alguns casos, o médico pode prescrever o uso de um corticoide nasal para ajudar a controlar o inchaço interno da mucosa.

Para acelerar a recuperação, a ventilação adequada nos ambientes, aliada ao afastamento temporário do gatilho, também ajuda e aumenta o conforto ao longo do dia.

Veja mais: Alergias em crianças: como a escola deve lidar?

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Foto de Dra. Brianna Nicoletti

Escrito por Dra. Brianna Nicoletti

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