DOENÇAS & CONDIÇÕES
Entenda como funciona a alergia alimentar e o que fazer
Entenda o que é alergia alimentar, seus sintomas, tipos, tratamento e como agir em emergências. Informações confiáveis com apoio médico

Dra. Brianna Nicoletti
5min • 25 de jul. de 2025

Imagine descobrir que algo tão simples quanto um copo de leite, um pedaço de pão ou uma mordida em um camarão pode colocar sua vida em risco. Para milhões de pessoas no mundo, esta é uma realidade.
A alergia alimentar é uma condição que vai muito além de uma dor de estômago. Ela pode causar reações alérgicas graves, que ameaçam a vida e exige cuidados rigorosos, vigilância constante e, muitas vezes, mudanças profundas na rotina.
Quando a comida se torna um gatilho perigoso
Para quem não sabe o que é alergia alimentar, ela é uma reação do sistema imunológico a uma proteína presente em um determinado alimento. Para quem vive com essa condição, até mesmo uma quantidade mínima do alimento alergênico pode desencadear sintomas leves, moderados ou até mesmo graves. A anafilaxia, por exemplo, é uma reação alérgica muito grave e que pode levar a morte se não tratada imediatamente.“O corpo identifica essa proteína como uma ameaça e libera substâncias inflamatórias, como a histamina”, explica Brianna Nicoletti, médica alergista e imunologista.
Estima-se que até 8% das crianças e 3% dos adultos no mundo sofram com algum tipo de alergia alimentar, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estudos apontam para quantidade semelhante, com aumento de diagnóstico principalmente na infância.
Mas não confunda. Há diferença entre alergia alimentar e intolerância alimentar. Diferentemente da alergia, ela não envolve o sistema imunológico, ou seja, trata-se de uma dificuldade em digerir ou metabolizar um componente do alimento, como ocorre com a lactose presente no leite. Os sintomas geralmente são digestivos, mais leves e não colocam a vida em risco.
Conheça os diferentes tipos de alergia alimentar
A alergia alimentar pode se manifestar de maneiras diferentes e, por isso, os médicos classificam em três tipos:Alergia alimentar IgE-mediada
É a forma mais comum e também a que pode trazer reações mais graves. Os sintomas aparecem muito rápido, logo após comer o alimento, e podem se manifestar com manchas vermelhas na pele, inchaço nos lábios ou olhos, vômito, chiado no peito ou até uma reação mais séria, que é a anafilaxia.Alergia alimentar não IgE-mediada
Nesse caso, a reação acontece de forma mais lenta, e pode levar algumas horas ou até dias para surgir. É mais comum em bebês e crianças pequenas e, muitas vezes, é mais difícil suspeitar qual é o alimento que está fazendo mal. Os sintomas costumam afetar o sistema digestivo, com sangue nas fezes, refluxo ou recusa alimentar.Formas mistas
São aquelas alergias que envolvem os dois tipos anteriores e podem se manifestar como alergias de pele ou inflamação no esôfago.Veja também: Alergia alimentar: dicas para comer fora com segurança
Os principais alimentos que mais causam alergia alimentar são:
- Leite de vaca;
- Ovo;
- Amendoim;
- Castanhas;
- Nozes;
- Peixes;
- Frutos do mar;
- Soja;
- Trigo.
“Estes são responsáveis por mais de 90% das reações alérgicas alimentares graves no mundo”, alerta Brianna.
Entenda a contaminação cruzada
Alimentos industrializados como barras de cereais, chocolates, molhos prontos e produtos de padaria podem trazer um risco extra, mesmo que não tenham o ingrediente em si.Isso acontece por causa da contaminação cruzada, quando pequenas partículas de um alimento alergênico entram em contato com outros produtos durante o preparo, o armazenamento ou o transporte.
“Basta uma partícula mínima do alimento para provocar reação em pacientes sensíveis”, destaca a médica.
A contaminação cruzada por alérgenos ocorre, por exemplo, quando um utensílio, equipamento ou superfície que foi usado para manipular leite, ovo, amendoim ou outros alimentos alergênicos entra em contato com outros alimentos sem a devida limpeza.
Mesmo que o ingrediente alergênico não esteja listado na embalagem, traços dele podem estar presentes, e isso já representa um risco real para quem tem alergia alimentar.
Sintomas que exigem atenção
A alergia alimentar pode surgir em qualquer fase da vida. Embora mais comum na infância, é possível se tornar alérgico na vida adulta, mesmo sem ter tido algum episódio anterior. “Frutos do mar, castanhas e aditivos são os mais associados às alergias de início tardio”, explica a especialista.Os sinais mudam de acordo com o tipo de alergia. De maneira geral, os principais sintomas são:
- Coceira;
- Manchas vermelhas na pele (conhecidas por urticária);
- Inchaço;
- Dor abdominal;
- Vômito;
- Diarreia, dificuldade para respirar e queda da pressão arterial podem indicar uma reação alérgica, e é preciso correr para o hospital.
“Dificuldade para respirar, rouquidão repentina e tontura sugerem anafilaxia, reação alérgica grave que é uma urgência médica”, reforça Brianna.
Nas formas não IgE-mediadas, aquelas em que os sintomas demoram até dias para aparecer, os sinais podem ser vômitos, diarreia com sangue, prisão de ventre muito intensa, recusa para se alimentar e até problemas de crescimento, quando se trata de crianças.
A alergista explica que o principal a se fazer é observar a frequência, a relação do tempo entre o consumo do alimento e os sintomas, e se eles aparecem depois de ingerir o mesmo alimento.
“A avaliação com um médico alergista é essencial para diferenciar alergia, intolerância, alterações da flora intestinal (disbiose), infecções ou outras causas”, recomenda.
Fazer um diário alimentar, registrando os alimentos ingeridos e os sintomas é uma maneira de conseguir pistas sobre o alimento que está fazendo mal. Há também testes de alergia feitos por meio de exames de sangue ou pela exposição da pele a determinados alérgenos. O diagnóstico nunca deve ser feito com base apenas em sintomas isolados.
Leia mais: Tem alergia alimentar? Veja como diagnosticar e tratar