Logo Propor

DOENÇAS & CONDIÇÕES

Alergia a ovo: sintomas, como descobrir e o que não pode comer

A introdução do ovo após 12 meses de idade aumenta o risco de alergia porque reduz o período natural de adaptação imunológica.

Dra. Brianna Nicoletti

Dra. Brianna Nicoletti

5min • 4 de dez. de 2025

A pessoa descascando ovo cozido sobre uma mesa de madeira, ilustrando cuidados e riscos para quem tem alergia ao alimento.

Os sintomas podem variar de acordo com o nível de sensibilidade do organismo, o que torna importante a atenção cuidadosa da família.

Sendo a segunda causa mais comum de alergia alimentar em crianças e bebês, a alergia a ovo costuma surgir ainda nos primeiros anos de vida, quando o sistema imunológico reage de forma exagerada às proteínas presentes na clara ou na gema do alimento.

Os sintomas podem variar de acordo com o nível de sensibilidade do organismo, o que torna importante a atenção cuidadosa da família e acompanhamento médico regular

Para te ajudar a entender como a alergia se manifesta, o que o pequeno deve evitar comer e como descobrir o quadro, conversamos com a alergologista e imunologista Brianna Nicoletti. Confira!

Afinal, por que a alergia a ovo acontece?

A alergia do ovo ocorre devido a uma reação do sistema imunológico diante das proteínas presentes na clara ou na gema, como ovalbumina e ovomucoide, produzindo uma resposta desproporcional que leva ao surgimento de sintomas gastrointestinais, na pele ou respiratórios.

De forma geral, o organismo interpreta componentes inofensivos do alimento como ameaças e desencadeia liberação de substâncias inflamatórias, como histamina, provocando reações que podem surgir poucos minutos após o contato com o ovo.

“Alergia ao ovo é uma das alergias alimentares mais comuns em bebês e crianças pequenas. Isso ocorre porque o sistema imunológico infantil ainda está em maturação”, explica Brianna.

A introdução alimentar muito tardia, especialmente quando o ovo só é oferecido depois dos 12 meses, aumenta o risco de alergia. Crianças com dermatite atópica grave têm chance ainda maior de desenvolver o problema, porque a pele inflamada facilita o contato do organismo com proteínas do alimento.

Vale destacar que alergia não é o mesmo que intolerância. Quadros de intolerância não envolvem o sistema imunológico, de acordo com Brianna, e ocorrem devido a dificuldade do organismo que processar algum componente do alimento — o que causa alguns desconfortos digestivos, como gases, dor de barriga ou inchaço.

Quais os sintomas de alergia a ovo?

Os sintomas de alergia a ovo podem envolver vários sistemas ao mesmo tempo, e variam de leves a potencialmente graves. Normalmente, eles surgem entre 5 a 30 minutos após o contato com o alimento, de acordo com Brianna. Em casos mais raros, podem aparecer em até duas horas.

A alergista aponta alguns dos principais sintomas:

Pele

  • Urticária (placas vermelhas que coçam);
  • Angioedema (inchaço de olhos, lábios, rosto);
  • Dermatite ou piora do eczema.

Respiratórios

  • Coriza, espirros;
  • Tosse, chiado no peito;
  • Fechamento de glote (sinal de gravidade).

Gastrointestinais

  • Vômitos imediatos (muito característico de alergia alimentar);
  • Dor abdominal;
  • Diarreia.

A intensidade varia muito, porque algumas crianças apresentam sintomas leves na pele, enquanto outras podem ter desconfortos no estômago ou sinais respiratórios que precisam de avaliação médica rápida.

Assim, os pais devem ficar atentos a sintomas de anafilaxia, como queda da pressão, dificuldade para respirar, sonolência excessiva e palidez intensa.

Como saber se a criança tem alergia a ovo?

O diagnóstico de alergia a ovo é feito por um alergologista, que avalia a história clínica da criança, observa como e quando os sintomas aparecem e decide quais testes serão necessários para identificar a reação do organismo ao alimento. De acordo com Brianna, os principais testes envolvem:

  • Teste cutâneo (prick test), no qual uma pequena gota contendo proteína do ovo é colocada na pele e levemente pressionada para verificar se ocorre vermelhidão ou inchaço;
  • Exame de sangue para IgE específica, que mede anticorpos que aumentam quando há alergia;
  • Teste de provocação oral, realizado em ambiente controlado, onde pequenas quantidades de ovo são oferecidas para confirmar a sensibilidade com segurança.

Importante: os testes para confirmar alergia a ovo nunca devem ser feitos em casa, porque a exposição ao alimento pode provocar reações rápidas e intensas na criança.

Alergia a ovo pode desaparecer sozinha?

A alergia a ovo pode desaparecer sozinha ao longo da infância, porque o sistema imunológico amadurece e passa a tolerar as proteínas presentes na clara e na gema com mais facilidade. De acordo com estudos, metade das crianças deixam de apresentar sintomas até os 5 anos de idade, enquanto 70 a 80% dos casos se resolvem até a adolescência.

“O tipo de proteína sensibilizada também importa: a alergia à ovalbumina tende a desaparecer mais cedo. A sensibilização à ovomucoide pode demorar mais, porque é uma proteína mais estável ao calor. A introdução progressiva de ovo assado/cozido, quando liberada pelo alergista, acelera a tolerância”, complementa Brianna.

Quais alimentos devem ser evitados?

Além do ovo, existem alguns alimentos, em especial os industrializados, que costumam usar proteínas do alimento como parte da receita, o que exige atenção constante na leitura de rótulos e na escolha das preparações.

A legislação brasileira obriga que derivados do ovo estejam destacados, mas alguns termos podem confundir. Brianna chama atenção para alguns nomes:

  • Albumina;
  • Lecitina E322 (geralmente derivada de soja, mas pode vir do ovo; é importante confirmar);
  • Globulina;
  • Lisozima (comum em alguns queijos);
  • Emulsificante de origem animal;
  • Clara, gema, ovo desidratado, proteína de ovo.

Entre alguns dos produtos que frequentemente contêm ovo, estão:

  • Bolos, cookies e massas de padaria;
  • Pães de forma;
  • Massas frescas, como macarrão e nhoque;
  • Empanados prontos;
  • Maionese;
  • Alguns chocolates e sorvetes;
  • Hambúrgueres, almôndegas e embutidos.

Orientação prática para pais: a leitura do rótulo deve ser cuidadosa e sempre até o final, incluindo a linha “ALÉRGICOS: CONTÉM OVO”.

Quem tem alergia a ovo pode tomar vacina?

A maior parte das pessoas com alergia ao ovo pode tomar todas as vacinas, de acordo com Brianna.

A vacina de febre amarela contém pequenas quantidades de proteína do ovo, mas a orientação atual diz que até crianças com alergia podem tomar a dose, desde que passem antes por avaliação do alergologista. A maioria recebe a vacina sem ter reação importante, e a decisão só é mais cuidadosa para quem já teve um quadro grave.

No caso da vacina da gripe (influenza), ela pode ser usada com segurança em todas as pessoas alérgicas ao ovo, até mesmo em casos graves. Não é mais necessário teste prévio, dose fracionada ou preparo especial, porque as vacinas atuais têm quantidade mínima de proteína residual.

A única situação que exige mais cuidado envolve pessoas que já tiveram anafilaxia por ovo. Elas continuam podendo tomar a vacina, mas precisam ser imunizadas em um serviço preparado e com orientação individualizada.

A orientação final deve ser feita pelo alergologista ou pelo pediatra, que avalia a história clínica e indica o cuidado mais seguro, garantindo proteção completa sem risco desnecessário.

Confira: Quando a alergia vira emergência: entenda a anafilaxia

Perguntas frequentes

A alergia a ovo é comum em bebês?

A alergia a ovo aparece com frequência na infância porque o sistema imunológico ainda está amadurecendo e tende a reagir de forma exagerada às proteínas presentes na clara e na gema.

Muitas vezes, ela aparece nos primeiros meses após a introdução alimentar, quando o organismo entra em contato pela primeira vez com proteínas que ainda não reconhece como seguras, causando uma reação que pode afetar a pele, intestino ou respiração do bebê — o que precisa de orientação médica contínua.

A alergia a ovo tem cura?

A alergia tende a desaparecer ao longo da infância porque o sistema imunológico fica mais maduro e aprende a tolerar proteínas que antes eram identificadas como perigosas, permitindo que grande parte das crianças supere a sensibilidade entre os 3 e 6 anos.

Contudo, algumas podem precisar de mais tempo e de acompanhamento médico para avaliar a evolução e decidir quando o alimento poderá ser reintroduzido com segurança.

A alergia a ovo aparece mais com a clara ou com a gema?

A alergia costuma estar ligada principalmente à clara, porque ela concentra proteínas mais alergênicas, como ovalbumina e ovomucoide, responsáveis por grande parte das reações.

Porém, a gema também pode causar sensibilidade em alguns casos, razão pela qual o alimento deve ser totalmente evitado durante o período de exclusão orientado pelo alergologista.

A alergia a ovo pode afetar o ganho de peso da criança?

A alergia pode afetar o ganho de peso quando não existe substituição adequada, pois o ovo é fonte de proteínas e nutrientes importantes, tornando fundamental o acompanhamento com nutricionista para planejar alternativas nutritivas e manter o crescimento adequado do pequeno.

A introdução precoce do ovo ajuda a prevenir alergia?

A introdução alimentar precoce, realizada por volta dos 6 meses conforme orientação pediátrica, pode ajudar a reduzir o risco de alergia porque o contato regular e controlado com pequenas quantidades de alimento favorece o desenvolvimento da tolerância.

Isso permite que o sistema imunológico aprenda a reconhecer proteínas da clara e da gema como seguras, motivo pelo qual é recomendado evitar atrasos, principalmente em crianças com pele muito sensível ou dermatite atópica.

A alergia a ovo interfere na amamentação?

A alergia não interfere diretamente na amamentação, pois a criança não reage ao leite materno, porém pequenas quantidades de proteína do ovo podem passar para o leite quando a mãe consome o alimento, criando uma situação rara mas possível de irritação na pele ou desconforto digestivo.

Nesses casos, o pediatra pode orientar ajustes na alimentação materna quando existe suspeita de reação relacionada.

Veja mais: Alergias em crianças: como a escola deve lidar?

Inscreva-se em nossa newsletter

Receba semanalmente as últimas notícias da área da saúde, cuidado e bem estar.

Foto de Dra. Brianna Nicoletti

Escrito por Dra. Brianna Nicoletti

Sobre

Alergista e Imunologista

Especialidades/Área de atuação

- CRM/SP 113.368

Group Companies
Waves